São João Batista
Nascimento em 24 de junho do ano 1 a.C. em Ain Karim, na Palestina.
Morte em 29 de agosto do ano 31, em Maqueronte, na Palestina.
Precursor de Jesus, padroeiro de Quebec e do movimento de Emaús [1].
No século1, um homem chamado João começou a pregar no vale do Rio Jordão, na Palestina. Vestido com peles de camelo e alimentando-se de gafanhotos e mel, ele perambulava pelas aldeias profetizando a vinda do Salvador e batizando os fiéis nas águas do riacho. As multidões que se aglomeravam para ouvi-lo impressionavam-se com sua pureza e dedicação, e muitos chegaram a confundi-lo com Jesus. "Eu não sou Cristo", dizia. Quando lhe perguntaram por que batizava, uma vez que não era o Messias, ele respondeu:"Eu batizo com água, mas no meio de vocês existe alguém que não conhecem, e que vem depois de mim."
Com estas palavras, João anunciou o advento do Messias. Mais tarde, o Filho de Deus apareceu diante dele, pedindo para ser batizado. "Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?", disse João humildemente. Ao que Cristo respondeu: "Por enquanto deixe como está!Porque devemos cumprir toda a justiça."
E assim aconteceu. Considerado o precursor de Jesus, São João Batista é hoje um dos santos mais celebrados do Catolicismo e o rito batismal que criou tornou-se um dos mais importantes da liturgia cristã.
Nasce um Profeta
Desde o início, avida de João Batista esteve estreitamente ligada à de Jesus. A mãe do menino que viria a ser santo, Isabel, era prima de Maria e ambas engravidaram no mesmo período, segundo conta a Bíblia. Ela morava com o marido, Zacarias, na aldeia de Ain Karim, localizada cinco quilômetros a oeste de Jerusalém. O pai de João era um sacerdote da aldeia e sempre sonhou ter um filho que pudesse dar continuidade às tarefas que lhe cabiam no Templo.
A gravidez da mulher foi revelada a Zacarias pelo anjo Gabriel, conforme reza a tradição cristã. Isabel já estava em idade avançada para os padrões vigentes e ainda não havia concebido nenhuma criança, o que trazia muito desgosto para o casal. Naquela época a esterilidade era vista como uma vergonha e uma maldição. Certo dia, enquanto Zacarias fazia o serviço religioso, o emissário de Deus apareceu diante dele afirmando que o Senhor lhe mandaria um filho cujo nome deveria ser João. O sacerdote ficou muito feliz com a notícia mas, lembrando-se da idade da esposa, duvidou da veracidade dessa informação. Gabriel então o castigou, fazendo com que ficasse mudo até o dia em que a criança chegasse.
Os meses passaram e uma visita inesperada iluminou o cotidiano do casal: Maria de Nazaré veio dividir com a prima a alegria de estar carregando no ventre o filho de Deus. Ao ouvir a Boa-Nova, o bebê de Isabel estremeceu de alegria em sua barriga e ela ficou cheia do Espírito Santo. O episódio, que ficou conhecido como "Visitação", é considerado a primeira expressão profética de João.
"Os profetas falam constantemente mediante atos e sinais, dispensando palavras. Assim começou João Batista", afirma o teólogo francês René Laurentin.
Oito dias após o nascimento da criança, que teria ocorrido em 24 de junho, Isabel foi levada a Jerusalém para a cerimônia da circuncisão do filho, na qual anunciou que ele receberia o nome de João (cujo significado é "Javé fez misericórdia"). A decisão feria os costumes da época, segundo os quais as crianças eram batizadas com o nome de algum parente. Os presentes tentaram impedir e perguntaram ao mudo Zacarias sua opinião. Ele pediu uma tábua e escreveu: o nome dele é João. No mesmo instante recobrou a voz.
Nos primeiros anos de vida do menino, seu pai previu: "E a você chamarão profeta do Altíssimo, porque irá à frente do Senhor para preparar-lhe os caminhos, anunciando ao seu povo a salvação, o perdão dos pecados." Tratava-se de mais uma confirmação do simbolismo e do papel que João desempenharia durante toda a vida: o de precursor de Cristo.
Na época em que João começou a convocar as pessoas para serem batizadas às margens do Rio Jordão, muitos começaram a chamá-lo pela alcunha de Batista. Existiam muitos tipos de ritos e abluções, como a cerimônia judaica na qual a pessoa imergia sozinho na água. Mas os batismos realizados por ele diferiam de todos os outros. "João queria mostrar que o homem não pode se purificar sozinho já que toda santidade vem de Deus", diz o historiador Vasni de Almeida, da Unesp.
A morte
A enorme afluência de pessoas às conversões de João Batista começou a incomodar os sacerdotes de Jerusalém. Segundo os historiador Flávio Josefo, que viveu no século 1, o rei Herodes mandou prendê-lo na fortaleza de Maqueronte por medo da dimensão que sua influência sobre o povo estava tomando. Já a versão bíblica conta que quando o rei Herodes se casou com a mulher de seu irmão, chamada Herodíades, João condenou-o e, por isso, foi enviado à prisão. No entanto, tal castigo não satisfaz à ira do soberano. Em seu banquete de aniversário, Herodes, depois de ver Salomé, filha de sua esposa, dançando, ofereceu à moça o presente que escolhesse. Ela consultou a mãe, que indicou: peça a cabeça de João em uma badeja. Assim foi feito. E ele tornou-se o primeiro mártir do Cristianismo.
A morte de João Batista não o conduziu ao esquecimento. Ao contrário, sua memória permaneceu viva na opinião pública e inspirou de maneira impressionante a vida cristã nos primeiros séculos. Os seguidores de Jesus não demoraram a expressar sua admiração ao precursor do Messias.
Hoje ele é um dos poucos santos a quem a Igreja Católica dedica duas festas anuais - uma para celebrar seu nascimento, em 24 de junho, e outra para lembrar seu martírio, em 29 de agosto.
No Brasil, o culto ao homem que batizou Jesus Cristo desembarcou junto com os lusitanos, que há muito tempo já o veneravam em sua terra natal. "Quando os portugueses iniciaram o empreendimento colonial no País, a partir de 1500, as festas de São João já eram o centro das comemorações do mês de junho. Alguns cronistas contam que os jesuítas acendiam fogueiras e tochas, provocando grande atração sobre os indígenas", afirma o antropólogo Artur Peregrino, da Universidade Católica de Pernambuco.
Tradição da Fogueira
As raízes da tradição da fogueira remontam, no entanto, a uma época anterior a Cristo, quando elas eram acesas em 21 de junho, início do solstício de verão npo Hemisfério Norte, para saudar a chegada da fase de colheita e a abundância. No século 6, o Catolicismo associou as comemorações pagãs ao aniversário de São João Batista, e uma lenda tratou de explicar essa ligação. Conta-se que quando as primas Isabel e Maria engravidaram combinaram que a primeira a ganhar bebê anunciaria a novidade acendendo uma fogueira na frente da própria casa e levantando um mastro bem alto. Isabel cumpriu a promessa quando do nascimento de seu filho e a Virgem foi visitá-la levando uma capelinha (coroa de folhas e flores), um feixe de palha seca e folhas perfumadas de majericão.
O imaginário nacional incorporou esse elementos à festa que se inspirou no nome de João e ficou sendo"junina".
O formato das comemorações varia de acordo com a região, mas de modo geral elas se compõem de uma procissão, um leilão e uma novena.
Tradicionalmente, a novena de São João Batista tem início no dia 15 de junho, encerrando-se no dia 23 do mesmo mês. Durante esse período, os fiéis se reúnem para rezar o terço e participar das missas. A famosa quermesse é realizada após as orações, quando são arrematadas prendas para os leilões. Nesses alegres encontros, leiloam-se desde doces, legumes, verduras e roupas, até leitoas e bezerros.
O levantamento do mastro e o batismo na fogueira são os pontos altos da comemoração. Sob gritos de "Viva São João!", os devotos, acompanhados pelo padre, eguem o suporte de madeira que traz no topo uma bandeira com imagem do santo. A fogueira, contruída sempre com base arrendondada e o corpo piramidal, é acesa logo em seguida. Ao redor dela os fiéis se purificam, relembrando a célebre frase de João: "eu batizo vocês na água, mas virá Aquele que irá batizar vocês no Espírito de Deus e no fogo."
À meia-noite a imagem do santo é levada em procissão. Em alguns lugares é costume lavar seus pés e suas mãos com uma cuia ou uma concha. Depois da lavagem, usa-se uma toalha de linho branco para secá-lo. Os enfermos pedem então a cura de doenças, especialmente no que se refere a dores de cabeça e garganta. Pedidos de casamento também são endereçadas a ele, embora Santo Antônio, igualmente comemorado nas festas juninas, seja o "casamenteiro" mais popular.
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Oração
São João Batista, voz que clama no deserto: "Endireitai os caminhos do Senhor... fazei penitência, porque no meio de vós está quem não conheceis, e do qual eu não sou digno de desatar os cordões das sandálias", ajudai-me a fazer penitência das minhas faltas, para que eu me torne digno do perdão Daquele que vós anunciastes com estas palavras: "Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo."
São João, pregador da penitência, rogai por nós. São João, precursor do Messias, rogai por nós. São João, alegria do povo, rogai por nós. Amém.
Fonte: Revista das Religiões - Santos e Beatos.
Para Saber Mais:
[1]O Movimento Emaús nasceu na França
há 50 anos e vive uma proposta de solidariedade entre os pobres. Grupos
comunitários recolhem, consertam e reciclam objetos para venderem a
pessoas carentes por preços simbólicos. O Movimento acredita no lema "A
força da partilha". Trata-se de uma proposta de partilha com quem está
pior. "Injustiça não é desigualdade, injustiça é não partilhar".
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