Patriarca dos caldeus no Iraque à ONU: basta indiferença para com os cristãos

Patriarca dos caldeus no Iraque à ONU:
basta indiferença para com os cristãos

2014-07-24 Rádio Vaticana-Bagdá (RV) - Permanece crítica a situação dos cristãos no Iraque. Enquanto isso, nestas horas, o balanço do ataque de um comando armado a um ônibus de detentos, nas proximidades de Bagdá, é de ao menos sessenta mortos.
O Patriarca dos caldeus, Dom Louis Sako, lançou um apelo às Nações Unidas a fim de que "o Conselho de Segurança não permaneça um simples observador das contínuas atrocidades cometidas contra os cristãos", expulsos do norte do país pelos muçulmanos do "Estado Islâmico".
Em nível político, realiza-se nesta quinta-feira a segunda sessão do Parlamento do País do Golfo dedicada à eleição do chefe de Estado, após a sessão do dia anterior sem resultados; ao tempo em que pode ser instituída uma Comissão para que se ocupe da minoria cristã. A esse propósito, eis o que disse Dom Sako, entrevistado pela Rádio Vaticano:

Dom Louis Sako:- "Mil famílias deixaram Mosul após a publicação da ordem do Isis (Estado islâmico do Iraque e do Levante). Os cristãos estão nos vilarejos da Esplanada do Nínive e também nas cidades curdas. O Curdistão e a Igreja caldeia estão ajudando um pouco estas famílias, mas até agora não foram tomadas medidas para auxiliá-las ou para encontrar uma solução política para elas. Portanto, o povo se encontra ainda em situação de pânico. Nesta quarta-feira ouviram bombardeios próximo a um vilarejo e deixaram suas casas. Encontrei o chefe do Curdistão e, retornando a Bagdá, encontrei o presidente do Parlamento e muitos políticos. Estou buscando, junto a eles, uma ajuda humana, mas também política."

RV: O que as instituições políticas iraquianas podem fazer e o que o senhor pede ao Conselho de Segurança das Nações Unidas?
Dom Louis Sako:- "É triste ver a indiferença do mundo inteiro diante do que o Oriente Médio está vivendo. São perseguidos porque são cristãos. São pacíficos. São inocentes. Esse é o grande escândalo. O mundo inteiro deve reagir para dar fim a estes atos e pedir àqueles que financiam esse povo – o Isis – que suspendam as ajudas militares e econômicas."

RV: A ONU falou de crime contra a humanidade e o senhor usou palavras contundentes, chamando o que está acontecendo de "limpeza étnica"...
Dom Louis Sako:- "As palavras e as condenações não bastam. Esses militantes não entendem! É preciso fazer pressão sobre os governos regionais. Estamos muito preocupados também com nosso patrimônio: existem igrejas antigas em Mosul, do Séc. V ao Séc. X, e essas igrejas são queimadas, destruídas e estão acabando com tudo. Se uma igreja nova é explodida, podemos construir outra, mas este patrimônio é histórico e não o é somente para os cristãos e para o Iraque, mas para o mundo inteiro. Todos devem reagir, não somente ficar olhando."

RV: Há uma emergência humanitária. Quais são as necessidades dos cristãos que fugiram de Mosul?
Dom Louis Sako:- "Foram expulsos e não têm nada. Os membros do Isis entraram nas casas deles e pegaram tudo. Não têm um centavo! Nós, como Igreja, lhes damos de comer, mas não é suficiente, porque eles têm outras necessidades. Esta sexta-feira haverá uma passeata em Lyon, na França, como escreveu o Cardeal Barbarin, e esta passeata, esta proximidade, nos dá força para não perdermos a confiança e também a esperança, do contrário, o povo abandonará, irá embora, e o país ficará vazio." (RL)

Para Saber Mais:
O Estado Islâmico do Iraque e Levante (EIIL, também conhecido como ISIS: Estado Islâmico do Iraque e da Síria) é um grupo jihadista que age no Iraque e na Síria.
O Levante foi formado em abril de 2013 e surgiu a partir da Al-Qaeda do Iraque. Desde então, a milícia se tornou dissidente e se transformou em um dos principais grupos jihadistas, enfrentando as forças do governo na Síria e obtendo vitórias militares no Iraque.
O tamanho exato desse grupo não está claro, mas acredita-se que tenha milhares de membros, incluindo muitos estrangeiros. Correspondentes afirmam que o grupo pode estar superando a Al-Qaeda e sendo considerado o mais perigoso movimento jihadista do mundo. 
Iraque vive no último mês uma nova onda de violência que ameaça se transformar em uma guerra civil. O grupo muçulmano sunita Estado Islâmico do Iraque e do Levante tomou importantes cidades do norte e anunciou que levará a batalha até a capital, Bagdá, e cidades do sul. Ele quer criar um califado entre o Iraque e a Síria que siga a lei islâmica, a Sharia.
A islamização forçada está em vigor na província de Nínive e Mossul, zonas ocupadas por militantes. Os islamitas espalharam pelas ruas e praças um novo código de conduta inspirado numa interpretação radical da lei islâmica, onde as principais vítimas são as mulheres e os cristãos. O código, com 16 artigos, impõe a pena de morte para os que renegam o islão, obriga as mulheres a não saírem de casa e os cristãos a pagarem uma taxa mensal mínima de 250 dólares por mês.
Os cristãos são, na sua maioria, desempregados que não conseguem pagar a verba exigida. O Patriarcado de Bagdad alerta para a tragédia dos cristãos, pois os que resistem e permanecem na região arriscam-se a ficar sem os seus bens, tendo como única alternativa a conversão ao Islão ou a expulsão. (Fonte: G1, Ig)

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