Em seu discurso, o Pontífice definiu a droga uma “ferida” da sociedade e a dependência química como uma “nova forma de escravidão”.
“É evidente que não existe uma única causa que leva à dependência da droga, mas são muitos os fatores que influenciam: a ausência da família, a pressão social, a propaganda dos traficantes, o desejo de viver novas experiências, etc”, disse o Papa, recordando que cada dependente carrega uma história pessoal e que não podemos cair na injustiça de classificá-los como se fosse objeto ou um vaso quebrado. Toda pessoa precisa ser valorizada e apreciada em sua dignidade para poder ser recuperada. Vamos ao encontro da sua dignidade. Continua tendo, mais do que nunca, uma dignidade enquanto pessoas que são filhas de Deus."
Droga corrói, corrompe e mata
“Não é de se estranhar que tanta gente caia na dependência da droga, pois a mundanidade nos oferece um amplo leque de possibilidades para alcançar uma felicidade efêmera, que – ao final – se converte em veneno, que corrói, corrompe e mata. A pessoa começa a se destruir e, com ela, todos a seu redor. O desejo inicial de fuga se transforma na devastação da pessoa na sua integridade, repercutindo em todas as camadas sociais.”
Sistema mafioso
Neste contexto, o Papa acrescentou que é importante conhecer qual é o alcance do problema da droga - que é destruidor, é essencialmente destruidor - e, sobretudo, a vastidão de seus centros de produção e de seu sistema de distribuição. “As redes, que possibilitam a morte de uma pessoa. A morte não física: a morte psquica´, a morte social. O descarte de uma pessoa. Redes imensas, poderosas, que vão aliciando pessoas responsáveis na sociedade, nos governos, na família."
"Sabemos que o sistema de distribuição, mais ainda que a produção, representa una parte importante do crime organizado, porém, constitui um desafio identificar o modo de controlar os circuitos de corrupção e as formas de lavagem de dinheiro. Não há outro caminho senão desconstruir cadeia, que vai desde o comércio de drogas em pequena escala até as formas mais sofisticadas que se aninham no capital financeiro e nos bancos que se dedicam à lavagem de dinheiro sujo”.
"Um juiz de meu país começou a trabalhar seriamente sobre o problema da droga. Tinha milhares de quilômetros de fronteira sob sua jurisdição. Pouco tempo depois recebeu através do correio uma foto de sua família. Teu filho vai a tal escola, tua esposa faz isto... nada mais. Um aviso mafioso, Ou seja, quando alguém procura chegar às redes de distribuição, encontra-se com esta palavra de cinco letras: MAFIA. Porém, é sério. Porque, assim como na distribuição se mata quem é escravo do consumo da droga, igualmente se mata quem queira destruir esta escravidão", observou o Papa.
Francisco denunciou o sistema mafioso utilizado pelos carteis de droga, matando não só fisicamente a pessoa, mas também socialmente.
Prevenção é o caminho
Para Francisco, são necessários grandes esforços para deter a demanda do consumo de drogas, como projetos sociais, apoio familiar, reabilitação das vítimas e, sobretudo, a educação. “A prevenção é o caminho prioritário”, afirmou, pois a formação humana integral oferece à pessoa a possibilidade de ter instrumentos de discernimento.
Contudo, acrescentou, "o problema da prevenção da droga como programa sempre se vê freado por mil e um fatores de inaptidão dos governos: por um setor governamental daqui, de lá, acolá. Quase não há êxitos nos programas de prevenção à droga. Uma vez que cresce, e finca raízes na sociedade, é muito difícil.
O Pontífice recordou como, em 30 anos, o seu país, a Argentina, passou de consumidor, local de trânsito a produtor de drogas.
O Papa concluiu exortando os participantes a prosseguirem em seu trabalho, concretizando as iniciativas que empreendem a serviço dos que mais sofrem.
Encontro Internacional
A Pontifícia Academia das Ciências convidou no Vaticano especialistas, acadêmicos, médicos e membros da sociedade civil para debater principalmente o aspecto científico da droga, apresentando as consequências de seu abuso no corpo e no cérebro, assim como explorando os possíveis usos medicinais de certas substâncias para curar enfermidades e transtornos específicos.
Em dois dias de reunião (23 e 24 de novembro), foram considerados também outros aspectos, como a produção ilícita, as estratégias para combater o uso, a exploração de crianças nas organizações criminosas e os efeitos da legalização das chamadas drogas leves. (Fonte: Radio Vaticano)
Conferência internacional sobre drogas, “flagelo mundial”
24/11/2016
Tráfico de seres humanos, violência e drogas foi o tema da Conferência Internacional organizada pela Pontifícia Academia das Ciências, que atendeu a sensibilidade do papa para esta questão. A abertura do evento foi realizada pela Rainha Silvia, da Suécia, e pelo diretor do Escritório das Nações Unidas que lida com drogas e crime, Yury Fedotov. A conferência internacional sobre a produção, utilização e tráfico de drogas ilegais, além do uso e abuso de substâncias químicas e as consequências da utilização destas para a mente e o corpo, foi iniciada na quarta-feira, 23 de novembro, na Casina Pio IV, no Vaticano, e encerrou-se na quinta-feira, 24 de novembro, na qual teve um encontro do Papa Francisco com os participantes.
A iniciativa da realização do seminário intitulado “Narcóticos: Problemas e soluções deste flagelo mundial”, foi do Chanceler da Pontifícia Academia das Ciências, Dom Marcelo Sanchez Sorondo. Durante os dois dias de trabalho foram analisados dados, comparadas experiências e padrões históricos, mas sobretudo, a busca de novas estratégias para enfrentar, amplamente, esta dramática e complexa realidade.
Em seu discurso na abertura dos trabalhos, a Rainha Silvia, fundadora da "World Childhood Foundation", que trabalha para melhorar as condições de vida das crianças em todo o mundo; e integrante honorária da Fundação Mentor (que realiza um trabalho contra as drogas), destacou a "necessidade de uma maior cooperação global" para enfrentar este desafio. Ela destacou a "fragilidade das crianças" vítimas da ligação mortal existente entre o "tráfico de drogas e exploração de seres humanos", no dramático contexto internacional de pobreza e guerras. A soberana também destacou a importância da prevenção através da informação sobre o perigo das drogas.
De acordo com dados de 2013 do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), encarregado de monitorar a difusão das drogas no mundo e as relativas atividades criminosas; uma em cada vinte pessoas, com idades entre 15 e 64 anos, utiliza droga ilícita pelo menos uma vez na vida, para um total de 246 milhões de indivíduos. Dados mostram um aumento de três milhões de pessoas em relação ao ano anterior. O Diretor Yury Fedotov, reiterou as consequências devastadoras que o tráfico de drogas e as atividades criminosas têm para a "saúde, a paz, o desenvolvimento e os direitos humanos”. "Flagelo - disse ele - que não tem limites."
Foi confirmado que o ópio é originário do Afeganistão e que o produto é proveniente do cultivo da papoula; além disso, financia o terrorismo dos talibãs, bem como a criação de vício, a violência e a insegurança. Os Balcãs são os principais corredores de trânsito para a heroína que se ramifica em todas as direções. Mais de 40% do uso mundial de cocaína vem da América do Norte, sendo os principais produtores a Colômbia, Peru e Bolívia, onde a violência e a pobreza são desenfreadas.
Invocando uma crescente cooperação, foram mencionados tratados internacionais de controle de drogas a partir de 1961 até os objetivos de combate fixados para 2019 e 2030.
No evento, muitos interventores salientaram sobre o complexo e sofisticado sistema financeiro que sustenta o tráfico de drogas e criticaram redes governamentais que, por vezes, não lutam com determinação contra esta realidade. A luta contra a corrupção e contra a máfia – disseram alguns interventores participantes do evento - é uma prioridade. Também foi discutido o aumento da proliferação e uso de drogas sintéticas, e de compostos químicos devastadores, de fácil acesso, especialmente pelos jovens que estão cada vez mais utilizando a Internet para compra destas substâncias.
Foram dois dias de trabalho, portanto, para enquadrar todo o fenômeno da droga, também do ponto de vista médico e o uso correto dessas substâncias no setor da saúde. Entre os objetivos, também presente a forma de tratar a dependência de drogas e as possíveis alternativas à prisão, possibilitando assim a reabilitação das vítimas das drogas e a quebra do círculo da delinquência.
Fonte: Radio Vaticano
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