Papa Francisco nomeia 17 novos cardeais, entre eles um brasileiro

Papa nomeia 17 novos cardeais, entre eles um brasileiro

Por RFI Publicado em 19-11-2016
Gina Marques, correspondente da RFI em Roma

O arcebispo de Brasília, Dom Sérgio da Rocha, é o mais novo cardeal da Igreja católica. Ele foi nomeado pelo papa Francisco neste sábado (19), junto com outros 16 religiosos. A diversidade dos nomes escolhidos confirma a intenção do sumo pontífice de descentralizar o Vaticano. Pela primeira vez na história da instituição, o colégio cardinalício conta mais eleitores não europeus do que representantes do velho continente.


Neste terceiro consistório do seu pontificado, Francisco nomeou 17 novos cardeais procedentes de vários países dos cinco continentes, entre eles o Brasil. O novo purpurado brasileiro, Dom Sérgio da Rocha, 56 anos, foi nomeado arcebispo de Brasília em 15 de junho de 2011 pelo papa Bento XVI e desde abril de 2015 preside a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ele estudou filosofia no Seminário Diocesano de São Carlos, teologia no Instituto Teológico de Campinas, concluiu mestrado em teologia moral na Faculdade Teológica Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, e doutorado na mesma disciplina junto à Academia Alfonsiana de Roma.

"Essa nomeação expressa muito bem o valor e reconhecimento que o Papa dá à Igreja no Brasil", comentou o novo cardeal. "Mas ao mesmo tempo, creio que isso traz uma responsabilidade ainda maior, não só para mim, mas para a Igreja no Brasil e os bispos no país”.

Entre os novos cardeais, 13 tem menos de 80 anos de idade e poderão participar do eventual conclave para eleger o próximo pontífice. Foram nomeados também outros quatro cardeais eméritos com mais de 80 anos. Logo após a cerimônia de ordenação, Francisco os 17 novos cardeais foram à capela do ex-convento Mater Ecclesiae, onde foram abençoados pelo papa emérito Bento XVI.

No domingo (20), os cardeais vão participar das celebrações conclusivas do Jubileu da Misericórdia, com o encerramento da Porta Santa.

Novo equilíbrio geográfico com as periferias do mundo

O pontífice argentino interrompeu o eurocentrismo da hierarquia católica, na qual predominavam cardeais europeus e principalmente italianos, dando mais importância ao que ele chama de “periferias do mundo”, como África, Ásia e América Latina. Em 2013, quando Francisco foi eleito, 61 cardeais com direito de voto eram europeus e 56 de outros países. Agora 54 eleitores são da Europa e 67 de outros continentes, com um aumento significativo dos africanos, que passam de 11 a 15, e dos asiáticos que de 11 passam a 14.

“A América Latina se mantém estável, passando de 33 a 34, e a Europa perde 7 purpurados, deixando aos não-europeus a pouca distância de dois terços de votos (de 120) necessários para eleger um novo Papa”, comentou o vaticanista argentino Andrés Beltramo, autor do livro “La Reforma en Marcha”. Entre os 13 novos cardeais com direito a voto, três são da Europa, três da América Latina (Brasil, Venezuela e México), três dos Estados Unidos, dois da África e dois da Ásia. Na lista, só um da Itália, país que por décadas contava com influentes purpurados.

O único italiano com direito a voto é monsenhor Mario Zenari que, como núncio apostólico em Damasco, está na linha de frente do conflito na Síria. A sua nomeação é considerada como uma novidade, pois no Vaticano esse tipo de cargo diplomático não costuma ser ocupado por um cardeal. Ele abriu a cerimônia deste sábado com uma mensagem ao papa e a todos os cardeais, recordando as vítimas da guerra e que a Igreja representa uma saída para encorajar o diálogo, a misericórdia e a paz.

Francisco escolheu nomear alguns bispos de países que até agora não tinham representantes entre os chamados “príncipes da Igreja”. Entre eles, Maurice Piat, bispo de Port-Louis, capital com população de 150 mil pessoas na Ilha Maurício, no oceano índico; John Ribat, bispo de Port Moresby, capital de pequena Papua Nova Guiné, na Oceania, e Patrick D’Rozario, bispo de Daca, uma das cidades de Bangladesh que mais sofre com a fúria jihadista. Destaca-se também Dieudonné Nzapalainga, arcebispo de Bangui, cidade também marcada pela violência na República Centro-Africana. Aos 49 anos, o africano se torna o mais jovem de todos os cardeais, além de ser um dos protagonistas nas negociações de paz no seu país.

Brasil tem cinco cardeais eleitores

Com a escolha de Dom Sérgio da Rocha, a Igreja no Brasil passa a ter cinco cardeais eleitores: Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, Raymundo Damasceno Assis, que foi arcebispo de Aparecida até 16 de novembro, João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, no Vaticano, e Orani João Tempesta, do Rio de Janeiro.

Também são cardeais brasileiros Cláudio Hummes e Paulo Evaristo Arns, ambos de São Paulo, Aloísio Lorscheider, de Fortaleza, José Freire Falcão, de Brasília, Serafim Fernandes de Araújo, de Belo Horizonte, Geraldo Majella Agnelo, de Salvador, e Eusébio Oscar Scheid, do Rio de Janeiro. Por terem mais de 80 anos, não participam de conclaves, mas podem ser eleitos.

Francisco alerta contra a discriminação e pede união

Na homilia aos novos cardeais, Francisco reiterou seu apelo a favor do acolhimento dos refugiados, alertando para o perigo da polarização e da exclusão como forma de resolver os conflitos. “Vemos, por exemplo, como rapidamente quem vive ao nosso lado não só possui a condição de desconhecido, imigrante ou refugiado, mas torna-se uma ameaça, adquire a condição de inimigo” disse o papa. “O inimigo é alguém que devo amar”, completou o pontífice, recordando um princípio do evangelho.

O papa Francisco advertiu também que a intolerância é um mal que existe até dentro da Igreja. “O vírus da polarização e da inimizade permeia as nossas maneiras de pensar, sentir e agir. Não sendo imunes a isto, devemos estar atentos para que tal conduta não ocupe o nosso coração, pois iria contra a riqueza e a universalidade da Igreja, que podemos constatar palpavelmente neste colégio cardinalício”, ressaltou.

As palavras do papa foram interpretadas pela imprensa italiana também como uma indireta resposta às contestações de alguns cardeais conservadores que recentemente criticaram o pontífice, acusando-o de criar confusão na doutrina católica com a Exortação Apostólica Amoris Laetitia (Alegria do Amor). Este documento propõe uma abertura para católicos divorciados que se casaram novamente e estimula maior tolerância com questões relacionadas à família.

Quem são os novos cardeais

Os 13 novos cardeais eleitores nomeados pelo papa Francisco são: Mario Zenari (Itália), Dieudonne Nzapalainga (República Centro-Africana), Carlos Osoro Sierra (Espanha), Sergio da Rocha (Brasil), Blase Cupich (EUA), Patrick D'Rozario (Bangladesh), Baltazar Enrique Porras Cardozo (Venezuela), Josef De Kesell (Bélgica), Maurice Piat (Ilhas Maurício), Kevin Farrel (EUA), Carlos Aguiar Retes (México), John Ribat (Papua Nova Guiné) e Joseph William Tobin (EUA).

Os 4 novos cardeais não eleitores são: Anthony Soter Fernandez (Malásia), Renato Corti (Itália), Sebastian Koto Khorai (Lesoto), Ernest Simoni (Albânia).

Fonte: RFI
Foto:  REUTERS/Stefano Rellandini


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