Padre Arnaldo Rodrigues - Cidade do Vaticano
“Se alguém tem sede, venha a mim e beberá, aquele que crê em mim! Conforme a Palavra da Escritura: Do seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7, 37-38). Com estas palavras, no dia 15 de maio de 1956 o Papa Pio XII apresentou ao mundo a Encíclica “Haurietis Aquas”, sobre o culto do Sagrado Coração.
Nesta Encíclica, o Papa buscou recordar que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus trás ao coração do fiel inúmeros benefícios e “riquezas celestiais”. A devoção que encontrou em Santa Margarida Maria Alacoque uma grande propagação, aparece antes no Evangelho em dois grandes acontecimentos: primeiro destacamos os gestos de São João Evangelista, quando recosta sua cabeça sobre o peito de Jesus na última ceia – “Ele, então, reclinando-se sobre o peito de Jesus” (Jo 13,25); e no momento da sua morte na cruz, quando o soldado abriu o seu lado com a lança – “mas um soldado traspassou-lhes o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19,34).
Quando se está diante do altar central na Basílica de São Pedro em Roma, e olha a esquerda, se espanta com uma grande imagem de mais de 5 metros de altura, de um soldado que está voltado para o altar central. É a estátua do legionário Romano que traspassou o lado de Jesus, chamado em italiano “Longino”, e conhecido no Brasil como São Longuinho. Esta bela obra de arte do século XVII (1628-1638), foi feita por Gian Lorenzo Bernini (o mesmo que fez a praça de São Pedro).
Porém este soldado esculpido em um único bloco de mármore não tem mais a imagem de um soldado, mas de um convertido, já não usa um elmo e nem uma armadura, mas olha Cristo sobre a cruz e diz: “verdadeiramente este homem era filho de Deus”. Esta belíssima imagem de arte, pode representar também o nosso momento, o momento em que a humanidade olha e venera o lado aberto de Cristo, que ainda hoje jorra sangue e água. Lugar de nascimento da nossa Igreja Católica, e que por meio dela seria amplamente divulgada a devoção.
O Papa Pio XII quando escreveu a encíclica quis reforçar que ainda em nosso tempo, onde tantos males transtornam as pessoas, as nossas famílias e a nossa nação, que não pode haver um caminho mais eficaz do que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
“Que homenagem religiosa mais nobre, mais suave e mais salutar do que este culto que dirige a todos à própria caridade de Deus? Que pode haver de mais eficaz do que a caridade de Cristo para estimular os cristãos a praticarem em sua vida a lei evangélica, sem a qual não é possível haver entre os homens paz verdadeira, como claramente ensinam aquelas palavras do Espírito Santo: Obra da justiça será a paz(Is 32,17)?”
Esta preciosa devoção não pode ser apenas uma devoção pessoal, mas ela deve ser essencialmente eclesial, pois a Igreja gerada deste Coração nos convida a um apostolado de oração e entrega pelos irmãos. “Todos que se gloriam do nome de cristãos e lutam ativamente por estabelecer o reino de Jesus Cristo no mundo, considerem a devoção ao coração de Jesus como bandeira e manancial de unidade, de salvação e de paz”.
A devoção da Igreja a este precioso coração, deve ser expressado também de forma atual e concreta. Rezando pelo nosso país: que nossas orações alcance de Deus a graça da paz e da justiça verdadeira; rezar pelas famílias que constantemente são atacadas por financiamentos destrutivos e ideológicos: que de modo especial os jovens redescubram na família constituída por Deus à realização de suas vocações, à felicidade e a santidade; rezar pelos sacerdotes que hoje realizarão o dia de oração pela santificação do clero: que possamos ser bons pastores, com o coração sempre mais configurado ao Coração de Cristo, com a confiança e a coragem de testemunhar ao mundo que vale a pena ser “padre”; por fim, rezar uns pelos outros: para que a exemplo dos santos, possamos buscar o que é “agradável ao Deus”.
Finalmente, que a devoção ao Sacratíssimo Coração de Cristo produza muitos frutos em toda a Igreja e em todo o mundo e, unido ao Imaculado Coração de Maria, que esteve intimamente ligado aos sofrimentos de seu Filho, animados de grande esperança, façamos com que “aumentem cada vez mais a devoção dos féis ao sagrado coração de Jesus, e assim se estenda mais por todo o mundo o seu reino suave; esse "reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz" (Missal Rom. Prefácio de Cristo Rei).
Fonte: Vatican News
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