Aleteia Vaticano | Nov 30, 2018
A fonte mais antiga que fala da comemoração do Natal em 25 de dezembro é Hipólito Romano
Foi no século IV, com o reconhecimento do cristianismo dentro do tecido social do Império Romano, que a festa do Natal foi fixada no dia 25 de dezembro.
No alvorecer do cristianismo, a festa mais querida para os fiéis não era tanto o Natal, mas sim a Páscoa. A data mais importante da vida de Cristo – e também dos santos e mártires – não era a do nascimento, mas a da morte, ou seja, o “nascimento no céu”.
De qualquer maneira, já nos dois primeiros séculos da era cristã, o Natal era celebrado tanto no Oriente quanto no Ocidente, ainda que não em todos os lugares e em um dia que variava notavelmente segundo cada lugar, em um período que ia de 28 de março a 18-25 de abril, de 20 ou 29 de maio a 24 de junho e 17 de novembro.
No Ocidente, a concordância na data se deu no século IV, com a inserção do cristianismo no tecido social do Império Romano, primeiro como religião “permitida” (Edito de Milão, de Constantino, em 313) e depois como religião do Estado (Edito de Tessalônica, de Teodósio, em 380).
A fonte mais antiga que fala da comemoração do Natal em 25 de dezembro é Hipólito Romano (170 – 235), quem, em 204, contava como, em Roma, era celebrado exatamente nesta data.
Também em uma primeira tentativa de calendário litúrgico, na “Depositio Martyrum” de 336, afirma-se que, em Roma, a festa do Natal era celebrada no dia 25 de dezembro. A mesma informação se encontra no Cronógrafo de 354, um almanaque ilustrado composto por um cristão rico, no qual aparecem duas listas de celebrações da vida eclesial: uma que recolhe os bispos de Roma não-mártires e outra que recorda os mártires dos quais se fazia memória na Igreja romana, indicando sua data de morte e lugar de sepultura. Nesta segunda lista, lê-se: “VIII kal. Ian. (Die Octavo ante Kalendas Ianuarias) natus Christus in Betleem Iudeae”, ou seja, “no oitavo dia anterior às calendas de janeiro, nasceu Cristo em Belém de Judá”. Como, segundo o uso latino, contavam-se o primeiro e o último elemento de uma série, o oitavo dia antes de 1º de janeiro era justamente o dia 25 de dezembro.
Em 425, o imperador Teodósio codificou os ritos da festa que, em 506, se tornou preceptiva e, em 529, festa civil. As igrejas ortodoxas que adotaram o Calendário Juliano, com um atraso de 13 dias segundo o Gregoriano, celebram o Natal no dia 7 de janeiro.
Segundo uma das hipóteses mais aceitas, a Igreja teria escolhido o dia 25 de dezembro para cristianizar a festa pagã do “Sol Invictus”, comemorada nesta data.
Por que se escolheu o dia 25 de dezembro para comemorar o nascimento de Jesus? A resposta não é unívoca e, ao longo do tempo, surgiram várias hipóteses ao respeito.
Umas das mais aceitas é que a Igreja escolheu esta data para dar uma um cunho cristão ao difundido sentimento religioso que deriva da celebração da festa pagã do “Sol Invictus”, o “Sol Vitorioso”, ao qual o imperador Aureliano havia dedicado um templo no ano de 274, no dia 25 de dezembro. Naquele dia, segundo os conhecimentos astronômicos da época, os romanos acreditavam que acontecia o solstício de inverno (hoje, no entanto, sabemos que é no dia 21), que dava fim ao dia de menor luz, indicando o início do período em que o sol começava a estar mais presente.
O “Sol Invictus” recordava o deus indo-iraniano Mitra, cujo culto, originário do Oriente, estava difundido sobretudo nos âmbitos militares. A adoração do sol havia tido grande êxito entre o povo. Seu vulto havia substituído, entre os romanos, os Saturnais, festividades em honra do deus Saturno, que duravam de 19 a 25 de dezembro e nas quais se trocavam presentes para desejar a paz e a prosperidade – e a autoridade imperial aproveitou isso, convertendo-o em devoção ao imperador.
A Igreja, portanto, decidiu entrar neste contexto também graças ao apoio de algumas passagens bíblicas já interpretadas em sentido cristológico, como a profecia sobre o “Sol de justiça” que teria brilhado “com a saúde em seus raios” (Ml 3, 20). O próprio Jesus havia dito: “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8, 12). Em um mosaico dos séculos II-III, conservado na necrópole vaticana, encontra-se uma imagem de Cristo representado como um sol em um carro triunfal.
Segundo outros especialistas, a data de 25 de dezembro foi tomada partindo da data da morte de Cristo, fixada em 25 de março; supondo que esta caísse exatamente 33 anos depois da sua Encarnação, fixada também em 25 de março, o nascimento deveria ter ocorrido nove meses depois, ou seja, no dia 25 de dezembro.
Pesquisas realizadas a partir do Evangelho de Lucas demonstram com grande probabilidade que Jesus realmente pode ter nascido no dia 25 de dezembro.
Mas Jesus realmente nasceu no dia 25 de dezembro? Uma resposta afirmativa é aquela à qual se pode chegar por meio dos estudos do professor Shemarjahu Talmon, da Universidade Hebraica de Jerusalém. O docente partiu da passagem do Evangelho de São Lucas (1, 5-13), na qual se relata que, na época em que Herodes era rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, marido de Isabel.
Lucas afirma que, “exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma, segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso” e, neste momento, apareceu-lhe um anjo que lhe predisse o nascimento de um filho, que deveria se chamar João (Batista).
É conhecido que, no antigo Israel, os que pertenciam à casta sacerdotal se dividiam em 24 ordens, que se organizavam de maneira imutável e que deveriam prestar serviço litúrgico no templo durante uma semana, de sábado a sábado, duas vezes por ano. A ordem de Zacarias – a de Abias – era a oitava na ordem oficial.
Com a ajuda do calendário da comunidade dos essênios de Qumran, o professor Talmon reconstruiu os turnos, o segundo dos quais caía em setembro. As antigas igrejas do Oriente celebram, de fato, a concepção de João Batista entre os dias 23 e 25 de setembro.
O evangelista Lucas diz que a anunciação do anjo Gabriel a Maria ocorreu seis meses depois da concepção de João (Lc 1, 26). As liturgias orientais e ocidentais concordam na identificação desta data com o dia 31 do mês de Adar – que corresponde ao nosso 25 de março, data em que a Igreja celebra o anúncio do anjo e a concepção de Jesus. A data do nascimento, portanto, deveria ser situada nove meses depois, ou seja, no dia 25 de dezembro.
Os estudos do professor Talmon, no entanto, não calaram as vozes que apoiam a falta de fundamento desta data, supostamente considerada contrária ao relato de Lucas, já que este fala de pastores que passam a noite ao relento – o que evoca um contexto mais primaveral qeu invernal.
Com relação a isso, evocam-se as normas de pureza típicas do judaísmo, recordando antigos tratados nos quais os rebanhos se diferenciavam em três tipos: os compostos somente por ovelhas de lã branca, consideradas puras e que, depois de pastar, voltavam a entrar no rebanho no centro das populações; as compostas por ovelhas em parte branca e em parte preta, que, à tarde, entravam em rebanhos dispostos nas redondezas das populações; e as ovelhas de lã preta, consideradas impuras, que não podiam entrar nem nas cidades nem nos rebanhos, devendo permanecer à intempérie com seus pastores em qualquer período do ano. O Evangelho recorda, além disso, que os pastores faziam turnos de guarda – o que indicaria uma noite longa e fria, apropriada ao contexto invernal.
É a noite que acolhe a Missa mais tradicional de Natal – a da meia-noite –, que recorda como o Papa de Roma costumava celebrar três Eucaristias nesta festividade, a primeira das quais começava por volta da meia-noite e era realizada na Basílica de Santa Maria Maior, onde, segundo a tradição, encontram-se as relíquias do presépio em que o Menino Jesus foi colocado. O Pontífice celebrava, além disso, a Missa para a comunidade grega de Roma na igreja de Santa Anastácia, talvez em recordação da “anastasis”, a ressurreição; era a celebração que hoje, no Missal, aparece como a Missa da Aurora. A terceira Missa era, finalmente, a que nós chamamos de Missa do Dia, que o Papa celebrava em São Pedro, fora das muralhas romanas, para quem vivia do lado de fora – essencialmente a população rural.
Fonte: Aleteia
A fonte mais antiga que fala da comemoração do Natal em 25 de dezembro é Hipólito Romano
Foi no século IV, com o reconhecimento do cristianismo dentro do tecido social do Império Romano, que a festa do Natal foi fixada no dia 25 de dezembro.
No alvorecer do cristianismo, a festa mais querida para os fiéis não era tanto o Natal, mas sim a Páscoa. A data mais importante da vida de Cristo – e também dos santos e mártires – não era a do nascimento, mas a da morte, ou seja, o “nascimento no céu”.
De qualquer maneira, já nos dois primeiros séculos da era cristã, o Natal era celebrado tanto no Oriente quanto no Ocidente, ainda que não em todos os lugares e em um dia que variava notavelmente segundo cada lugar, em um período que ia de 28 de março a 18-25 de abril, de 20 ou 29 de maio a 24 de junho e 17 de novembro.
No Ocidente, a concordância na data se deu no século IV, com a inserção do cristianismo no tecido social do Império Romano, primeiro como religião “permitida” (Edito de Milão, de Constantino, em 313) e depois como religião do Estado (Edito de Tessalônica, de Teodósio, em 380).
A fonte mais antiga que fala da comemoração do Natal em 25 de dezembro é Hipólito Romano (170 – 235), quem, em 204, contava como, em Roma, era celebrado exatamente nesta data.
Também em uma primeira tentativa de calendário litúrgico, na “Depositio Martyrum” de 336, afirma-se que, em Roma, a festa do Natal era celebrada no dia 25 de dezembro. A mesma informação se encontra no Cronógrafo de 354, um almanaque ilustrado composto por um cristão rico, no qual aparecem duas listas de celebrações da vida eclesial: uma que recolhe os bispos de Roma não-mártires e outra que recorda os mártires dos quais se fazia memória na Igreja romana, indicando sua data de morte e lugar de sepultura. Nesta segunda lista, lê-se: “VIII kal. Ian. (Die Octavo ante Kalendas Ianuarias) natus Christus in Betleem Iudeae”, ou seja, “no oitavo dia anterior às calendas de janeiro, nasceu Cristo em Belém de Judá”. Como, segundo o uso latino, contavam-se o primeiro e o último elemento de uma série, o oitavo dia antes de 1º de janeiro era justamente o dia 25 de dezembro.
Em 425, o imperador Teodósio codificou os ritos da festa que, em 506, se tornou preceptiva e, em 529, festa civil. As igrejas ortodoxas que adotaram o Calendário Juliano, com um atraso de 13 dias segundo o Gregoriano, celebram o Natal no dia 7 de janeiro.
Segundo uma das hipóteses mais aceitas, a Igreja teria escolhido o dia 25 de dezembro para cristianizar a festa pagã do “Sol Invictus”, comemorada nesta data.
Por que se escolheu o dia 25 de dezembro para comemorar o nascimento de Jesus? A resposta não é unívoca e, ao longo do tempo, surgiram várias hipóteses ao respeito.
Umas das mais aceitas é que a Igreja escolheu esta data para dar uma um cunho cristão ao difundido sentimento religioso que deriva da celebração da festa pagã do “Sol Invictus”, o “Sol Vitorioso”, ao qual o imperador Aureliano havia dedicado um templo no ano de 274, no dia 25 de dezembro. Naquele dia, segundo os conhecimentos astronômicos da época, os romanos acreditavam que acontecia o solstício de inverno (hoje, no entanto, sabemos que é no dia 21), que dava fim ao dia de menor luz, indicando o início do período em que o sol começava a estar mais presente.
O “Sol Invictus” recordava o deus indo-iraniano Mitra, cujo culto, originário do Oriente, estava difundido sobretudo nos âmbitos militares. A adoração do sol havia tido grande êxito entre o povo. Seu vulto havia substituído, entre os romanos, os Saturnais, festividades em honra do deus Saturno, que duravam de 19 a 25 de dezembro e nas quais se trocavam presentes para desejar a paz e a prosperidade – e a autoridade imperial aproveitou isso, convertendo-o em devoção ao imperador.
A Igreja, portanto, decidiu entrar neste contexto também graças ao apoio de algumas passagens bíblicas já interpretadas em sentido cristológico, como a profecia sobre o “Sol de justiça” que teria brilhado “com a saúde em seus raios” (Ml 3, 20). O próprio Jesus havia dito: “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8, 12). Em um mosaico dos séculos II-III, conservado na necrópole vaticana, encontra-se uma imagem de Cristo representado como um sol em um carro triunfal.
Segundo outros especialistas, a data de 25 de dezembro foi tomada partindo da data da morte de Cristo, fixada em 25 de março; supondo que esta caísse exatamente 33 anos depois da sua Encarnação, fixada também em 25 de março, o nascimento deveria ter ocorrido nove meses depois, ou seja, no dia 25 de dezembro.
Pesquisas realizadas a partir do Evangelho de Lucas demonstram com grande probabilidade que Jesus realmente pode ter nascido no dia 25 de dezembro.
Mas Jesus realmente nasceu no dia 25 de dezembro? Uma resposta afirmativa é aquela à qual se pode chegar por meio dos estudos do professor Shemarjahu Talmon, da Universidade Hebraica de Jerusalém. O docente partiu da passagem do Evangelho de São Lucas (1, 5-13), na qual se relata que, na época em que Herodes era rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, marido de Isabel.
Lucas afirma que, “exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma, segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso” e, neste momento, apareceu-lhe um anjo que lhe predisse o nascimento de um filho, que deveria se chamar João (Batista).
É conhecido que, no antigo Israel, os que pertenciam à casta sacerdotal se dividiam em 24 ordens, que se organizavam de maneira imutável e que deveriam prestar serviço litúrgico no templo durante uma semana, de sábado a sábado, duas vezes por ano. A ordem de Zacarias – a de Abias – era a oitava na ordem oficial.
Com a ajuda do calendário da comunidade dos essênios de Qumran, o professor Talmon reconstruiu os turnos, o segundo dos quais caía em setembro. As antigas igrejas do Oriente celebram, de fato, a concepção de João Batista entre os dias 23 e 25 de setembro.
O evangelista Lucas diz que a anunciação do anjo Gabriel a Maria ocorreu seis meses depois da concepção de João (Lc 1, 26). As liturgias orientais e ocidentais concordam na identificação desta data com o dia 31 do mês de Adar – que corresponde ao nosso 25 de março, data em que a Igreja celebra o anúncio do anjo e a concepção de Jesus. A data do nascimento, portanto, deveria ser situada nove meses depois, ou seja, no dia 25 de dezembro.
Os estudos do professor Talmon, no entanto, não calaram as vozes que apoiam a falta de fundamento desta data, supostamente considerada contrária ao relato de Lucas, já que este fala de pastores que passam a noite ao relento – o que evoca um contexto mais primaveral qeu invernal.
Com relação a isso, evocam-se as normas de pureza típicas do judaísmo, recordando antigos tratados nos quais os rebanhos se diferenciavam em três tipos: os compostos somente por ovelhas de lã branca, consideradas puras e que, depois de pastar, voltavam a entrar no rebanho no centro das populações; as compostas por ovelhas em parte branca e em parte preta, que, à tarde, entravam em rebanhos dispostos nas redondezas das populações; e as ovelhas de lã preta, consideradas impuras, que não podiam entrar nem nas cidades nem nos rebanhos, devendo permanecer à intempérie com seus pastores em qualquer período do ano. O Evangelho recorda, além disso, que os pastores faziam turnos de guarda – o que indicaria uma noite longa e fria, apropriada ao contexto invernal.
É a noite que acolhe a Missa mais tradicional de Natal – a da meia-noite –, que recorda como o Papa de Roma costumava celebrar três Eucaristias nesta festividade, a primeira das quais começava por volta da meia-noite e era realizada na Basílica de Santa Maria Maior, onde, segundo a tradição, encontram-se as relíquias do presépio em que o Menino Jesus foi colocado. O Pontífice celebrava, além disso, a Missa para a comunidade grega de Roma na igreja de Santa Anastácia, talvez em recordação da “anastasis”, a ressurreição; era a celebração que hoje, no Missal, aparece como a Missa da Aurora. A terceira Missa era, finalmente, a que nós chamamos de Missa do Dia, que o Papa celebrava em São Pedro, fora das muralhas romanas, para quem vivia do lado de fora – essencialmente a população rural.
Fonte: Aleteia
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