Padre Arnaldo Rodrigues - Cidade do Vaticano
“Se conforme o Apóstolo Paulo, Cristo è o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras ignora o poder de Deus e a sabedoria, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo.” (Prólogo ao comentário sobre o Profeta Isaías, de São Jerônimo, presbítero)
A cada ano, no mês de setembro, a Igreja Católica no Brasil dedica-se a celebrar a Palavra de Deus. Esta festa teve como principal inspiração a memória de São Jerônimo, 30 de setembro, um grande biblista que a pedido do Papa Damaso (366-367) preparou a Bíblia em latim, a partir do hebraico e do grego, a famosa Vulgata.
Este grande Santo da Igreja, foi o responsável por tornar o mês de setembro um período mais intenso para refletir e rezar com a Sagrada Escritura. É um convite a entrar na inesgotável fonte de misericórdia e de amor que é a Palavra de Deus.
Conhecer a Palavra de Deus é conhecer Cristo, como referiu São Jerônimo, que é “a Palavra que se fez homem e habitou no meio de nós” (cf. Jo 1,14). Reconhecer concretamente esta face do amor, como disse o Papa emérito Bento XVI:
“Em Jesus de Nazaré nós encontramos o rosto de Deus, que desceu do seu Céu para se imergir no mundo dos homens, no nosso mundo, e para ensinar a «arte de viver», o caminho da felicidade; para nos libertar do pecado e para nos tornar filhos de Deus (cf. Ef 1, 5; Rm 8, 14). Jesus veio para nos salvar e para nos mostrar a vida boa do Evangelho.”
Nós somos convidados a deixar que a Palavra de Deus, como uma brasa, toque os “nossos lábios” (cf. Is 6,7) entre em nossos corações e em nossas mentes, e transforme-nos de dentro para fora.
“A Palavra divina examina os pensamentos e os sentimentos. A Palavra da vida também é a verdade e sua palavra faz a verdade em nós, dissipando falsidades e duplicidades. As Escrituras nos desafiam constantemente para redirecionar nosso caminho para Deus. Deixar-se ‘ler’ pela Palavra de Deus nos permite tornar-nos ‘livros abertos’, reflexões vivas da Palavra que salva, testemunhas de Jesus e anunciadores de sua novidade. (Papa Francisco)”
Ela é a lâmpada que ilumina os nossos pés e a luz que conduz os nossos caminhos (cf. Sl 119,105), brilha nas trevas (cf. Jo 1,5) e ilumina a consciência do homem.
Deus em seu imenso amor e fidelidade às suas promessas, introduziu-nos onde nunca havíamos pensado: partilhar a própria vida e felicidade dele. E tudo começa com a sua Palavra, encarnada no meio de nós. É Cristo esta Palavra que nos cumula de fé e da sentido a nossa existência.
Lectio Divina
Como proposta de aprofundamento na Palavra de Deus, a Igreja nos oferece a oração da Lectio Divina: é um exercício de escuta pessoal da Palavra de Deus. Funciona como uma escada de quatro degraus espirituais: Leitura, Meditação, Oração, Contemplação. Sendo que os degraus são mais para a compreensão, pois o Senhor, na liberdade do seu Espírito, pode elevar à oração e à contemplação no momento que lhe aprouver. É preciso, portanto, estar aberto à ação do Espírito Santo: “Buscai na leitura e encontrareis na meditação; batei pela oração e encontrareis pela contemplação” (Monge Guido II, Idade média).
Para compreendermos melhor e crescermos na intimidade com Deus, vejamos os passos a seguir:
Preparar-se
Comece por encontrar um lugar tranquilo e cômodo. Um lugar de silêncio e que favoreça o recolhimento e que deixe você confortável.
Invoque o Espírito Santo, pois é Ele quem nos faz conhecer e a querer fazer a vontade de Deus:
“Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso Amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra. Oremos: Ó Deus que instruíste os corações dos vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos da sua consolação. Por Cristo Senhor Nosso. Amém”
Escolha qual leitura da Bíblia: pode ser uma das leituras do dia (liturgia diária) ou seguir um dos livros da Sagrada Escritura - Evangelistas, profetas etc.
Leitura
O que fala o texto? É necessário estar atento aos detalhes: o ambiente, o desenrolar dos acontecimentos, os personagens do texto, quais são os diálogos, a reação das pessoas; procurando perceber os seus sentimentos, as questões mais interessantes, as palavras e trechos que chamam mais atenção. Leia se quiser, mais de uma vez o texto sagrado, mas não se preocupe a ser você a encontrar citação mais importante, a Palavra de Deus é viva, ela que se apresentará naturalmente. Não se esqueça, é Deus quem falará conosco. Esse passo é o que exige maior esforço da nossa parte.
Meditação
O que diz o texto de forma pessoal para mim? Este é o momento de se colocar diante da Palavra. É hora de “ruminar”, saborear a Palavra de Deus. Na meditação vamos questionando, confrontando a passagem com a nossa vida, por meio do Espírito Santo.
Oração
O que o texto me faz responder ao Senhor? A oração nasce como fruto da meditação. Os sentimentos nos levam a dar uma resposta a Deus. Através do Espírito Santo, nos é suscitado o louvor, a súplica, a oração penitencial, a oferta.
Contemplação
O que a Palavra faz em mim? É o próprio Deus que age em nossas vidas. É permitir a ação de Deus que recebe a nossa oração e nos leva ao Seu coração. Na contemplação nós somos impelidos a ser como Cristo.
Que o próprio Deus nos conceda a graça de a cada novo dia crescermos na intimidade com a Sua Palavra.
Atenção: a oração da Lectio Divina exige uma prática, uma disciplina, pois todo o nosso ser precisa acostumar-se com este modo de rezar. Isto quer dizer, que se no primeiro dia você encontrou dificuldades, não deve desanimar, mas perseverar ate que se torne natural esta prática de oração com a Sagrada Escritura.
04 setembro 2019, 11:30
Fonte: Vatican News
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