Por David Ramos
Imagem original da Virgem de Guadalupe em seu santuário na Cidade do México. Foto: David Ramos / ACI Prensa
Cidade do México, 10 dez. 20 / 06:00 am (ACI).- Os quase 500 anos desde a aparição de Nossa Senhora de Guadalupe viram surgir uma diversidade de mitos em torno da imagem plasmada na tilma de São Juan Diego, como uma suposta temperatura humana ou movimento nos olhos da Virgem. O que há de verdade nisto?
Em entrevista ao Grupo ACI, Pe. Eduardo Chávez, postulador da causa de canonização de São Juan Diego e um dos maiores especialistas na aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, esclarece a verdade em torno dessas histórias.
1. É verdade que a imagem da Virgem de Guadalupe tem temperatura humana?
Pe. Chávez, também diretor do Instituto Superior de Estudos Guadalupanos, assinalou que este mito se difundiu através das redes sociais e e-mails, mas, na verdade, “a imagem não tem, não apresenta temperatura”.
“É lógico que o mármore, a pedra, a madeira, o tecido, tenham diferentes temperaturas”, disse. A imagem da Virgem de Guadalupe está plasmada sobre “um tecido feito de planta, uma agave chamada ‘ixotl’. E não apresenta uma temperatura como se fosse um ser humano”, indicou.
2. A imagem da Virgem de Guadalupe foi pintada ou fabricada por mãos humanas?
O sacerdote mexicano assegurou que este mito “é simples e claramente impossível”, pois, entre outros importantes detalhes, a tilma de São Juan Diego “não tem sequer pincelada”. “É uma estampa, é um impresso como tal”, afirmou.
Além disso, destacou o caráter milagroso da imagem, porque, “como é possível que tenha durado apesar de um acidente do ácido que se derramou sobre ela em 1784? Como é possível que, após o bombardeio ocorrido em 14 de novembro de 1921, nada tenha acontecido com ela?”.
3. Os olhos da Virgem de Guadalupe se movem?
Pe. Chávez afirmou que, nas redes sociais, “dizem que colocando sobre ela uma luz forte, os olhos se dilatam e coisas desse tipo. Isso não existe. Não é que se movam, não é que se dilatem”.
Para o cônego da Basílica de Guadalupe, “foi mal interpretada uma coisa que o oftalmologista Enrique Graue assinalou: que os olhos parecem humanos, no sentido de que se vê como uma fotografia humana, com profundidade e reflexos humanos”.
4. A Virgem de Guadalupe “flutua” sobre o manto?
O diretor do Instituto de Estudos Guadalupanos foi taxativo: “A imagem da Virgem de Guadalupe não flutua”, mas “está impressa na tilma”.
Também “não são duas ou três imagens postas uma sobre a outra”, como alguns asseguram.
5. A Virgem de Guadalupe é uma adaptação católica de uma deusa asteca?
Há quem defenda a ideia de que a Virgem de Guadalupe é uma adaptação católica da deusa asteca Coatlicue Tonantzin, uma mistura de mulher com serpentes que representava a fertilidade.
Entretanto, Pe. Chávez explicou que Nossa Senhora de Guadalupe “não é nenhuma adaptação de nenhuma deusa” e que “ela não aceita nenhuma idolatria”.
“Ela não é chamada de Coatlicue, que seria idolatria, ela é chamada Tonantzin, que não é idolatria, mas significa ‘nossa venerável mãe’, e como dizem os indígenas em diminutivo: ‘nossa mãezinha’. É um título, não é a idolatria”.
“Os missionários do século XVI jamais iriam fazê-la como um disfarce para uma deusa pagã, que para eles era simplesmente satanás, o demônio, e vesti-la como Maria. Isso é totalmente falso”, sublinhou.
6. Há música oculta na imagem da Virgem de Guadalupe?
Com base em um trabalho matemático, o contador público mexicano Fernando Ojeda divulgou esta descoberta, explicou Pe. Chávez.
Tomando as flores e estrelas na imagem da Virgem como se fossem notas musicais, Ojeda esboçou um pentagrama e encontrou a melodia.
Pe. Chávez assinalou que repetiram o experimento com cópias dos séculos XVI e XVII, “nas quais as estrelas e as flores estão a critério do pintor”, mas a única coisa que obtiveram foram “ruídos, não harmonia”.
“Somente com a original sai a harmonia perfeita e atualmente já tem um arranjo sinfônico. É verdade, surge música da imagem da Virgem de Guadalupe”, reiterou.
7. É verdade que uma das mãos da Virgem de Guadalupe é mais escura do que a outra?
Pe. Chávez assinalou que, embora “seja possível” que, com as sombras e a luz na imagem, se veja uma mão mais escura do que a outra na tilma de São Juan Diego, ele não está de acordo com os que sustentam que isso seja interpretado “como a mistura entre a raça branca e a raça mais escura, mais morena. Essas já são interpretações mais devocionais”, que “são bonitas, mas não há nenhuma correspondência com um códice ou com a mentalidade indígena”.
O que tem fundamento, indicou, é que a posição das mãos é entendida como rezar tanto para europeus como para os indígenas, que viam a Virgem “em passo de dança”, que para eles era sua forma de fazer oração.
8. Projetou-se recentemente, de forma milagrosa, uma luz no ventre da Virgem de Guadalupe?
Para Pe. Chávez, “é complicado saber se foi um milagre naquele momento, porque não sabemos se foi um raio de luz que tenha atingido alguma das coisas metálicas que se encontram perto dela e que tenha projetado uma luz em seu ventre”.
“O que sabemos é que ela é defensora da vida”, disse e destacou que isso se evidencia no “simples fato de que ela tenha uma cinta escura sobre o ventre, significa que está em cinta, portanto que Jesus Cristo Nosso Senhora está em seu ventre imaculado”.
9. São vistas palavras na imagem da Virgem de Guadalupe?
Frente aos que dizem que se pode encontrar palavras escritas na imagem da Virgem de Guadalupe, o sacerdote mexicano assegurou: “Eu não vejo isso em lugar algum”.
“Ela se comunica com glifos, como os indianos se comunicavam. E quando usou palavras, o fez em náhuatl através de Juan Diego, que depois foi sendo traduzido”.
“Em suas pregas e tudo isso, não se pode ver letras, isso faz parte de nosso carinho para com ela e tentamos com luz e sombra colocar nela ‘Pax’, colocar isso ou aquilo outro”, mas, “não há essas palavras”.
10. O bispo Frei Juan de Zumárraga tratou mal São Juan Diego?
O diretor do Instituto de Estudos Guadalupanos incentivou a “tirar de nossa mente e nosso coração” mitos como este contra o primeiro Bispo do México, o franciscano Frei Juan de Zumárraga.
“A chave, o eixo do acontecimento é o bispo”, assegurou, pois, “embora a Virgem de Guadalupe escolheu um leigo, colocou no paraíso um leigo, falou a um leigo, expressou sua mensagem a um leigo”, a casinha sagrada que ela pedia “não seria feita sem a autoridade do bispo”.
Pe. Chávez indicou que quem tratou mal São Juan Diego quando foi ver Frei Juan de Zumárraga “foram os criados, que o deixaram do lado de fora”.
O franciscano “nunca o tratou mal, ao contrário, tratou-o com carinho”, assim como “com muito respeito, com muita dignidade”, afirmou Pe. Chávez.
Fonte: ACI digital
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