Vinde e Vede! - 2° Domingo do Tempo Comum (Ano B)


VINDE E VEDE!

2° Domingo do Tempo Comum Ano B

Evangelho de João 1,35-42

Naquele tempo, 35 João estava de novo com dois de seus discípulos 36 e, vendo Jesus passar, disse: “Eis o Cordeiro de Deus!” 37 Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. 38 Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: “O que estais procurando?” Eles disseram: “Rabi (que quer dizer mestre), onde moras?” 39 Jesus respondeu: “Vinde ver”. Foram, pois, ver onde ele morava e, nesse dia, permaneceram com ele. Era por volta das quatro da tarde. 40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. 41 Ele foi encontrar primeiro seu irmão Simão e lhe disse: “Encontramos o Messias” (que quer dizer Cristo). 42 Então André conduziu Simão a Jesus. Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer pedra).
.


VINDE E VEDE!

O modo como se dava o discipulado de Jesus era muito distinto daquele dos rabinos. Na tradição rabínica, o discípulo escolhia seu mestre e por este era instruído na arte de interpretar as Escrituras. Esta atividade de caráter intelectual desenvolvia-se numa escola onde o mestre distinguia-se pela excelência do saber e o discípulo, pelo desejo de conhecer.
O método adotado por Jesus consistia na transmissão de um modo de ser, mais do que uma ciência. Os discípulos não estavam confinados numa escola, mas se colocavam no seguimento do Mestre e aprendiam, ouvindo suas palavras e presenciando o que ele fazia em favor do povo. Este aprendizado existencial ia transformando a vida do discípulo, num processo paulatino de assimilação de tudo que o Mestre realizava.
O discipulado, neste caso, consistia num duplo movimento. "Vinde" indicava que o discipulado se dava pela iniciativa de Jesus que convocava para o seu seguimento. Era ele quem chamava. Cabia ao discípulo aceitar o convite. "Vede" supunha concentrar a atenção na pessoa de Jesus para captar os valores que regiam sua ação e deixar-se moldar por eles.
Os primeiros discípulos aceitaram o convite de Jesus, ficaram fascinados por ele, e saíram para partilhar com os irmãos a experiência deste encontro transformador. Quem quiser se fazer discípulo do Senhor deverá trilhar o mesmo caminho.

Oração do Dia

Senhor Jesus, tu me chamaste para seguir-te. Faze de mim um discípulo autêntico, e que minha vida se espelhe na tua.

Comentário do Evangelho:
PE. JALDEMIR VITÓRIO – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE. [1]


ESCUTAR DEUS E SEGUIR JESUS

Depois da festa do Batismo do Senhor, que no Brasil substitui o 1º domingo do tempo comum, a liturgia dominical continua logo com o 2º. Mesmo sem querer, essa continuação é muito adequada: Jesus, logo depois de ser batizado por João Batista e tentado no deserto, chamou os primeiros discípulos. Segundo Jo, do qual se extrai o evangelho de hoje, foi dentre os discípulos do Batista que surgiram os primeiros seguidores de Jesus. O próprio Batista incentivou dois de seus discípulos a seguir Jesus, “o Cordeiro que tira o pecado do mundo”. Enquanto se põem a segui-lo, procurando seu paradeiro, Jesus mesmo lhes dirige a palavra: “Que procurais?” – “Mestre, onde moras”, respondeu. E Jesus convida: “Vinde e vede”. Descobrir o Mestre e poder ficar com ele tanto os empolga que um dos dois, André, logo vai chamar seu irmão Pedro para entrar nessa companhia também. E no dia seguinte, Filipe (o outro dos dois?) chama Nataniel a integrar o grupo.

A 1ª leitura aproxima disso o que ocorreu, mil anos antes, ao jovem Samuel, “coroinha” do sacerdote Eli no templo de Silo. Deus o estava chamando, mas ele pensava que fosse o sacerdote. Só na terceira vez, o sacerdote lhe ensinou que quem chamava era Deus mesmo. Então respondeu: “Fala, Senhor, teu servo escuta”.

“Vocação” e um diálogo entre Deus e a gente – geralmente por meio de algum intermediário humano. A pessoa não decide por si mesma como vai servir a Deus. Tem de ouvir, escutar, meditar.Que vocação? Para que serviço Deus ou Jesus nos chamam? Logo se pensa em vocação específica para padre ou para a vida religiosa. Mas antes disso existe a vocação cristã geral, a vocação para os diversos caminhos da vida, conduzida pelo Espírito de Deus, e da qual o Cristo é o portador e dispensador. Essa vocação cristã se realiza no casamento, na vida profissional, na política, na cultura etc. Seja qual for o caminho, importa ver se nele seguimos o chamado de Deus e não algum projeto concebido em função de nossos interesses próprios, às vezes contrários aos de Deus.

O convite de Deus pode ser muito discreto. Talvez esteja escondido em algum fato da vida, na palavra de um amigo… ou de um inimigo! Ou simplesmente nos talentos que Deus nos deu. De nossa parte, haja disposição positiva. Importa estar atento. Os discípulos estavam à procura. Quem não procura pode não perceber o discreto chamamento de Deus. A disponibilidade para a vocação mostra-se na atenção e na concentração. Numa vida dispersiva, a vocação não se percebe. E importa também expressar nossa disponibilidade na oração.: “Senhor, onde moras? Fala, Senhor, teu servo escuta”. Sem a vocação não tem vez.

Finalmente, para que a vocação seja “cristã”, é preciso que Cristo esteja no meio. Há os que confundem vocação com dar satisfação aos pais ou alcançar um posto na poderosa e supostamente segura instituição que é a Igreja. Isso não é vocação de Cristo. Para saber se é realmente Cristo que está chamando, precisamos de muito discernimento, para saber distinguir sua voz nas pessoas e nos fatos através dos quais ele fala.

PE. JOHAN KONINGS - comentário do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes" [2]

Comentários

Newsletter

Receba novos posts por e-mail:


Pesquisar este Blog