Protestantes comungam e mulheres pregam na Alemanha


Catedral de Frankfurt. Crédito: Mylius / Creative Commons

BERLIM, 18 mai. 21 / 01:41 pm (ACI).- Protestantes receberam a comunhão em igrejas católicas de Frankfurt, Alemanha, no domingo, 16 de maio. No dia seguinte, mulheres fizeram a homilia da missa em diferentes partes do país. As duas ações são proibidas na Igreja Católica. O Código de Direito Canônico, lei que regulamenta a Igreja Católica, estabelece que “os ministros católicos só administram licitamente os sacramentos aos fiéis católicos, os quais de igual modo somente os recebem licitamente dos ministros católicos” (Cânon 844). Na Igreja Católica, o sermão na missa é reservado a um ministro ordenado: diácono, padre ou bispo. Leigos não podem fazer a homilia.

Entre os dias 13 e 16 de maio, as igrejas cristãs da Alemanha realizaram seu Terceiro Encontro Ecumênico. O evento, que aconteceu principalmente de forma virtual, teve como dia principal o sábado, 15 de maio.

De acordo com a KNA, a agência de notícias do episcopado alemão, o terceiro encontro ecumênico terminou no sábado com quatro serviços litúrgicos em que “a decisão consciente dos visitantes individuais” de “participar da ceia de outra denominação" determinou o cesso à eucaristia. Protestantes receberam a Sagrada Comunhão em missas católicas e católicos participaram do momento da ceia em celebrações protestantes.

O presidente da conferência episcopal alemã, Georg Bätzing, bispo de Limburg, disse que o evento deveria ser "ecumenicamente sensível" quando se trata de dar o sacramento da Eucaristia aos protestantes. “Não se trata de uma intercomunhão no sentido de um convite recíproco geral para participar na Eucaristia e na Ceia do Senhor, mas de como tratamos a consciência pessoal de cada cristão católico ou protestante”, disse Bätzing à CNA Deutsch, agência de língua alemã do Grupo ACI.

Em uma entrevista à KNA em abril, Bätzing disse que “daria a Comunhão a alguém que acredita no que nós católicos acreditamos e deseja receber o corpo do Senhor com fé na presença real de Jesus Cristo”. O bispo de Limburg instruiu os padres de sua diocese a dar a comunhão aos protestantes que a solicitassem desde que estes tivessem feito um exame de consciência.

Na missa celebrada na catedral de Frankfurt, Bettina Limperg, luterana e presidente protestante do encontro ecumênico, recebeu a comunhão. O presidente católico do fórum, Thomas Stemberg, foi a um serviço protestante.

Na conta de Twitter do encontro, Limperg foi questionada sobre “como era a Eucaristia”. Ela respondeu que se sentiu “muito bem-vinda” e naquele momento não “sentiu diferença alguma”.

O reitor da catedral de Frankfurt, padre Johannes zu Eltz, pediu desculpas aos protestantes presentes na missa, porque frequentemente têm que lutar contra "a arrogância e a limitação do lado católico". "Eu peço desculpas por isso e agradeço sua enorme paciência”.

Em sua homilia, o sacerdote disse que se as igrejas e os cristãos "confiarem umas nas outras e em Deus, o mundo poderá experimentar um cristianismo mais convincente".

As homilias feitas por mulheres foram uma iniciativa da Federação das Católicas Alemãs (KFD na sigla em alemão), um grupo de mulheres católicas que participa do Caminho Sinodal.

Membros da KFD assinalaram nesta segunda-feira 17 de maio o “Dia da Pregadora”, e como parte da iniciativa, 12 mulheres em 12 paróquias alemãs predicaram sobre o Evangelho no momento da homilia.  

O dia 17 de maio foi escolhido por ser a data em que a Igreja de Roma celebrava Andrônico e Júnia personagens do Novo Testamento citados por São Paulo na Epístola aos Romanos (6, 17): “Saudai Andrônico e Júnia, meus parentes e cativos comigo, os quais são ilustres entre os apóstolos e foram em Cristo antes de mim”, na tradução do padre Matos Soares.

A KFD alega que a identidade de Júnia como mulher e como apóstola foi apagada na Igreja.

Para a KFD o objetivo das homilias feitas por mulheres era incentivar “uma Igreja com igualdade de gênero” onde “as mulheres são chamadas a pregar”. “Ninguém tem o direito de negar-lhes este chamado só porque são mulheres", diz a KDF.

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