Capelão lamenta ter dado a comunhão por engano a prefeita homossexual e não católica


CHICAGO, 24 ago. 21 / 03:07 pm (ACI).- Um capelão da polícia de Chicago, nos Estados Unidos, lamentou ter dado por engano a Eucaristia à prefeita da cidade, Lori Lightfoot, cristã não católica unida a outra mulher.

Em entrevista à CNA, agência em inglês do Grupo ACI, o padre Dan Brandt disse que momentos antes da comunhão, o celebrante principal, cardeal Blaise Cupich, lhe pediu que ajudasse ministrando a Eucaristia aos fiéis.

O sacerdote contou que ficou nervoso quando viu a prefeita no início da fila da comunhão, na missa do funeral da policial Ella French, que morreu em um tiroteio durante uma blitz.


Imagens da missa de 19 de agosto mostram a prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, retornando após receber a comunhão das mãos do padre Dan Brandt, capelão católico do Departamento de Polícia de Chicago. Créditos: CNA

“Sabe, eu sou culpado disso e estou mortificado”, afirmou.

O padre Brandt disse que ele não devia ter dado a Eucaristia à prefeita. No entanto, “no último segundo, o cardeal Cupich disse: ´durante a Comunhão, vou ficar sentado. Você ocupe o meu lugar”, e frisou que durante o fim de semana estava “muito distraído, estava dormindo muito pouco”.

“De qualquer forma, estou inventando desculpas... mas sim, ela veio, e eu coloquei a Sagrada Hóstia na mão dela e disse, ´Oh!`, e é claro, já era tarde demais. Fiquei pensando assim: ´meu Deus, tenha piedade de mim`”, lamentou.

O sacerdote se desculpou profundamente por “qualquer escândalo que minha distração possa ter causado” e disse que “não foi intencional e desejaria ter tido a mente mais clara naquele momento”.

“Ou melhor, desejaria que o cardeal tivesse ministrado a Comunhão, porque eu só estava pensando em voltar e sentar-me para me preparar para o que faltava da missa e para a procissão”, afirmou.

“Não posso me desculpar o suficiente com os fiéis que estão incomodados pelo fato de que ela recebeu a Eucaristia. Isso dependia totalmente de mim e o reconheço”, disse o padre. “Foi um erro e rezo para que seus leitores tenham a mesma misericórdia que espero que o Senhor tenha comigo”, acrescentou.

O cardeal Cupich celebrou a missa na igreja católica de santa Rita de Cássia para pedir pela alma policial de 29 anos, morta a tiros ao cumprir seu dever em uma blitz no dia 7 de agosto.

Em sua homilia, o cardeal contou que a policial Ella French tinha três anos no Departamento de Polícia de Chicago e foi uma “mulher empática com o sofrimento dos demais” e “generosa até o ponto de dedicar sua vida a fazer a diferença no mundo”.

A prefeita Lori Lightfoot estava sentada nas primeiras bancas da igreja durante a missa e foi a primeira na fila da Comunhão como pode ser visto na transmissão ao vivo da missa.

De acordo com a associação de ex-alunos de Washington High School, sua alma mater, Lightfoot é membro da Igreja de St. James AME Zion, em sua cidade natal de Massillon, Ohio, que pertence a uma comunidade eclesial metodista.

A mesma página identifica Lightfoot como fundadora da Christ the King Jesuit High School, que serve pessoas desfavorecidas da comunidade afro-americana no lado oeste de Chicago. Um porta-voz da prefeita confirmou que ela não é católica.

Lightfoot é a primeira prefeita abertamente homossexual de Chicago, bem como a primeira mulher afro-americana a ocupar o cargo. Está casada com Amy Eshleman, com quem tem uma filha.

Durante uma coletiva de imprensa após a missa de quinta-feira, Lightfoot, considerada contrária ao departamento de polícia por vários críticos, disse que espera que sua presença no funeral seja considerada uma “simples, mas bela expressão de solidariedade e apoio à família French”.

Segundo a lei canônica, para que um protestante receba a Eucaristia, deve haver incapacidade de se aproximar a um ministro da sua própria comunidade, expressar adesão à fé católica e respeito aos sacramentos e respeitar as prescrições necessárias para recebê-los.

Para receber a Eucaristia, é necessário não estar em pecado mortal e ter uma devoção real ao sacramento. Segundo o dogma, o estado de graça é necessário para a recepção digna da Eucaristia.

Além do perigo de morte, cabe ao bispo diocesano ou à conferência episcopal julgar a existência ou não de uma “grave necessidade” para a administração da Comunhão.

Segundo um documento de 1972 da Santa Sé, que orienta a interpretação do cânone, seriam casos de “grave necessidade” que possibilitam a administração da Comunhão aos protestantes situações tais como encarceramento, perseguição e movimentos de população em grande escala que resultem em cristãos “espalhados em regiões católicas”.

O vademecum ecumênico emitido em 2020 pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos deu uma orientação aos bispos para o discernimento da “grave necessidade”, afirmando que “os sacramentos nunca podem ser compartilhados por mera cortesia. É preciso agir com prudência para não causar confusão ou escândalo nos fiéis”.

A mãe de Ella, Elizabeth French, que adotou a filha através da Catholic Charities, esteve entre os que falaram ao final da missa fúnebre. “Hoje estou aqui com o coração partido”, disse ela. “Ela era uma jovem incrível”, acrescentou.

Ela também agradeceu a presença de todos os membros das forças de segurança e disse que sua filha estava muito orgulhosa de ser parte da polícia.

Outro policial da cidade, Carlos Yáñez Jr., também sofreu ferimentos graves durante a blitz e ainda está hospitalizado.

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