Criança em unidade hospitalar das Obras Sociais Irmã Dulce; ao lado, fachada do Santuário Santa Dulce dos Pobres, em Salvador (BA)
Fotos: Ascom
19 de junho de 2022
Por Daniel Gomes
Obra iniciada pelo “Anjo bom da Bahia” enfrenta déficit financeiro operacional que coloca em risco a manutenção dos trabalhos assistenciais. Campanha busca 1 milhão de apoiadores em todo o Brasil
O Santuário Santa Dulce dos Pobres, em Salvador (BA), teve intensa movimentação de fiéis entre 1o e 13 de junho para a Trezena de Santo Antônio, o Santo de devoção de Irmã Dulce (1914-1992), o “Anjo Bom da Bahia”.
Em funcionamento desde 2003, o templo é um dos espaços do Complexo Santuário Santa Dulce dos Pobres, no qual o visitante pode mergulhar na espiritualidade, memória e cultura da Santa e verificar o legado por ela deixado, especialmente em favor dos mais pobres, por meio das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), oficialmente fundadas em 26 de maio de 1959, mas cuja origem remonta a 1949, quando a religiosa pediu autorização de sua superiora para abrigar 70 pessoas doentes em um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio.
MISSAS DIÁRIAS, RELÍQUIAS E AÇÕES EVANGELIZADORAS
Com capacidade para até 1,2 mil pessoas sentadas, o Santuário, cujo Reitor é o Frei Giovanni Messias, tem missas todos os dias às 7h (exceto aos sábados), 8h30, 12h e 16h.
Lá também está a Capela das Relíquias de Santa Dulce, com o túmulo que guarda seus restos mortais. A inauguração ocorreu em junho de 2010, quando o corpo da Irmã foi para lá transladado. Após ter sido canonizada, em 2019, o local ganhou um túmulo de vidro com uma efígie em tamanho real da Santa.
Ligada ao Santuário, a Capelania das Obras Sociais Irmã Dulce realiza ações evangelizadoras em favor dos mais pobres e doentes, e coordena as atividades e celebrações na Capela Santo Antônio, localizada no Memorial Irmã Dulce.
Esse trabalho evangelizador e missionário se volta aos pacientes e funcionários por meio da Pastoral da Saúde e do Grupo Espiritual de Assistência aos Funcionários. Também há ações evangelizadoras para o público externo no próprio Santuário e na Praça Irmã Dulce, centradas na Eucaristia e na meditação da Palavra de Deus.
“Quem vem ao Complexo do Santuário tem a possibilidade de simplesmente participar de uma missa, mas também pode passar o dia inteiro por aqui e conhecer detalhes da vida de Santa Dulce, uma vez que, além do Santuário, há o Memorial e roteiros de visita. E, dependendo do tempo que disponha, é possível ter contato com as pessoas em situação de rua e conhecer o trabalho que fazemos com elas, no sentido de saciar a fome e lhes assegurar a dignidade humana”, explicou, ao O SÃO PAULO, Márcio Maia Didier, gestor do Complexo Santuário Santa Dulce dos Pobres.
Inaugurado em agosto de 1993, o Memorial Irmã Dulce é o núcleo da OSID com um acervo que ajuda a manter vivos os princípios, carismas e ideais da Santa. Há itens como o hábito usado por ela, fotografias, documentos e objetos pessoais, incluindo a cadeira na qual a Irmã dormiu por quase 30 anos em virtude de uma promessa. Outros fatos de sua vida são lembrados em maquetes, livros, instrumentos musicais, diplomas e medalhas.
TRANSMISSÃO DE VALORES
Outra iniciativa é a Escola do Dulcismo, criada para propagar e perpetuar o legado de Santa Dulce dos Pobres e seus 13 princípios de vida: Amor Ágape; Compaixão; Perseverança; Empatia e Acolhi- mento; Fé; Confiança; Não Julgamento; Essência do Feminino; Humildade; Criatividade; Gratidão; Simplicidade; e Paz.
Mais que uma escola formal, a proposta é difundir o conhecimento acerca da trajetória de amor e de serviço da Irmã Dulce, por meio do Projeto Escola. Há ainda o projeto educacional “Irmã Dulce: um diálogo com a educação”, voltado aos estudantes das redes estadual, municipal e particular, para que, visitando o Museu Irmã Dulce, conheçam, apreciem e vivenciem o legado da Santa. Além disso, é ofertado o curso Multiplicadores da Vida e Obra de Santa Dulce dos Pobres, para que ajudem a disseminar seu carisma, visão e valores, bem como sua devoção.
SUSTENTABILIDADE DO COMPLEXO
Manter toda essa estrutura em funcionamento sempre foi um desafio para a própria Irmã Dulce e para os que hoje continuam com as obras. Uma das mais recentes ações é a montagem de Núcleo de Turismo Religioso para melhor conduzir e recepcionar os turistas religiosos, caravanas e romarias, desenvolvendo roteiros específicos conforme os objetivos devocional, histórico, social, entre outros.
Já a Loja Irmã Dulce, iniciada em agosto de 2019, comercializa na unidade física e por e-commerce uma linha de produtos de uso pessoal e de devocionais como imagens, medalhas, terços e escapulários. Toda a renda é revertida para a manutenção das atividades da OSID.
Desde dezembro de 2017 também está em funcionamento o Dulce Café, com um cardápio de lanches e refeições que podem ser degustados por turistas e moradores locais.
DÉFICIT FINANCEIRO
Apesar dessas frentes de obtenção de recursos, os custos para manter os trabalhos têm sido maiores que as entradas financeiras, o que coloca em risco a continuidade dos trabalhos da OSID, que presta auxílio à população de baixa renda nas áreas de Saúde, Assistência Social, Pesquisa Científica e Ensino.
Por ano, a OSID realiza 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais, 23 mil cirurgias e 43 mil internações, além de atender 2,9 milhões de pessoas, entre os quais pacientes com câncer, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, usuários de substâncias psicoativas, população em situação de rua e crianças e adolescentes em risco social.
A instituição hoje atua com um déficit operacional de R$ 24 milhões e projeta que até o final de 2022 este valor salte para R$ 44 milhões.
“Todo mês este déficit cresce, e piorou nos dois últimos anos. Para que se tenha uma ideia, uma caixa com 50 unidades de máscara antes da pandemia custava R$ 4,90. Com o tempo, esse valor chegou a ser de R$ 130,00. Hoje, se compra uma caixa de máscara por cerca de R$ 27,00, um valor ainda alto. Além de estar mais cara, a quantidade usada aumentou devido à necessidade da troca de máscaras ser mais frequente ao longo do dia e de mais pessoas terem de utilizá-las, pois antes o uso era apenas para quem trabalhava nas áreas específicas de internação e cirurgia do hospital. Estamos falando de um item. Imagine os custos que aumentaram com medicamentos”, comentou Didier. Ele lamentou que desde 2017 o Ministério da Saúde não tenha reajustado o valor do repasse que faz à instituição para cada paciente que é atendido via Sistema Único de Saúde (SUS).
1 MILHÃO DE AMIGOS
Para viabilizar a continuidade dos trabalhos, a instituição pede a ajuda de todas as pessoas de boa vontade e lançou, em abril, a campanha “Um Milhão de Amigos para Santa Dulce”.
A ideia é obter doadores que contribuam com um valor mínimo de R$ 10,00, via PIX (chave – amigos@irmadulce.org.br), cartão de crédito ou pelo site www.1milhaodeamigossantadulce.org.br, se possível de modo permanente e mensal, mas também há a possibilidade de doar apenas uma vez.
“Se chegarmos a essa quantidade de amigos colaboradores, 1 milhão de pessoas, com a doação mensal mínima de R$ 10,00, conseguiremos manter as obras sem depender de outros organismos”, comenta Didier.
“Irmã Dulce dizia: ‘Essa obra não é minha, é de Deus’. Uma obra de Deus não fecha, pois é a última porta de esperança que os mais necessitados têm. Se as obras fecharem, o impacto será enorme, em especial para os mais pobres”, assegurou o gestor do Complexo Santuário Santa Dulce dos Pobres, reforçando o pedido de doações.
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Fonte: O São Paulo
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