Encerramento da 60ªAssembleia Geral da CNBB. - Foto: Victória Holzbach/CNBB Sul 3
Gustavo Amorim Gomes
APARECIDA, 28 Abr. 23 / 03:54 pm (ACI).- Para o novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jayme Spengler, a ‘Mensagem ao Povo Brasileiro’ que a entidade publicou ontem (27) “parte da Pessoa de Jesus Cristo e do Evangelho e a referência de tudo aquilo que segue não poderia ser diferente. É o Evangelho. É Jesus Cristo”. Dom Jayme respondia à pergunta da ACI digital feita na entrevista coletiva que encerrou a 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que o elegeu presidente.
A ‘Mensagem’ trata exclusivamente de assuntos políticos que vão da guerra da Ucrânia à vacinação, passando por taxas de juros no Basil e elogio ao governo federal pela nomeação de lideranças indígenas “a diversos postos de decisão no governo federal”.
Depois de listar “situações nos preocupam, como os autoritarismos, as polarizações, as desinformações, as desigualdades estruturais, o racismo, os preconceitos, a corrupção, a banalização do mal e das vidas, as doenças, a drogadição, o tráfico de drogas e pessoas, o analfabetismo, as migrações forçadas, as juventudes com poucas oportunidades, as violências em todas as suas dimensões, o feminicídio, a precarização do trabalho e da renda, as agressões desmedidas à “casa comum”, aos povos originários e comunidades tradicionais, a mineração predatória, entre tantas outras, que fragilizam o tecido social e tencionam as relações humanas”, os bispos fazem um diagnóstico claro.
“Esses problemas têm origem na opção por um modelo econômico cruel, injusto e desigual”, diz a mensagem assinada pelo arcebispo de Belo Horizonte, dom Valmor de Azevedo, que está sendo substituído por Spengler na presidência da entidade, os vices e o secretário-geral que estão de saída. “Por trás da palavra ‘mercado’ existe um sistema financeiro e econômico autônomo, que protagoniza ações inescrupulosas, destrói a vida, precariza as políticas públicas, em especial a educação e a saúde, adota juros abusivos que ampliam o abismo social, afeta a cadeia produtiva e reduz o consumo dos bens necessários à maioria do povo brasileiro”.
A crítica aos juros altos ecoa as manifestações de Lula contra a taxa de 13,5% mantida pelo Banco Central.
Para dom Jayme Spengler, “a condição de discípulo, discípula, de Jesus, do Crucificado, o Ressuscitado, tem implicações na vida social. E a Igreja não pode ficar calada, independente de partido político, ou de quem esteja no poder. Nós precisamos, e devemos, naquilo que dizemos, naquilo que fazemos, ter como referência, eu repito, Jesus Cristo e o Evangelho. É isso o que pauta nossas decisões”.
Citando o Evangelho de Mateus, dom Jayme disse que “ser sal da terra, luz do mundo, fermento de transformação” deve se dará “em vista de uma fraternidade, de uma sociedade mais integrada, integradora, para as futuras gerações”.
A ACI Digital introduziu a pergunta aos bispos dizendo que a Mensagem ao Povo Brasileiro deste ano não se refere nenhuma vez a conversão, penitência, vida espiritual, nada diretamente ligado à “visão beatífica, meta da nossa caminhada na terra”, como diz o Catecismo da Igreja Católica.
O arcebispo de Goiânia (GO), dom João Justino de Medeiros, agora primeiro vice-presidente da CNBB, disse que a pergunta ‘começa recordando aquilo que é bem específico da vida da Igreja, da sua missão”.
Para o arcebispo, “isso a Igreja faz todos os dias, todas as horas”.
“Nós tivemos a oportunidade, durante a assembleia, de celebrar a Eucaristia e ouvimos muito elogios às homilias todas que foram preparadas com muito zelo por aqueles que presidiram”, disse dom João Justino. “Essa é a missão de todo dia, e está acontecendo. Não está enfraquecida, pelo contrário. Nós temos tantos projetos, que crescem todos os dias na Igreja do Brasil”.
Dom João Justino considerou “interessante que na própria pergunta aparece um dado que vem desde 1970. Então, a Conferência [CNBB] sempre teve uma postura crítica diante da realidade que vivemos. Exatamente para instigar a participação de todos os católicos na construção de uma sociedade justa e fraterna”.
A pergunta de ACI Digital era se a ênfase nesse tipo de discurso político, dominante na CNBB desde os anos 1970, não está relacionada á queda da porcentagem de católicos na população brasileira, que data aproximadamente da mesma época. Os católicos eram 90% da população e hoje são pouco mais de 51% segundo o Datafolha. Nem dom João Justino nem os demais integrantes da mesa da entrevista responderam diretamente.
Respondendo a mesma pergunta, o bispo de Garanhuns (PE), dom Paulo Jackson, eleito segundo vice-presidente, fez uma comparação da igreja com um “tamborete de três pés”. Um seria a Palavra de Deus, outra a liturgia. “Mas a terceira perna do tamborete é a caridade, é a ética, é a justiça social. Sem essa perna do tamborete, o tamborete vira”, disse dom Paulo.
Ele também comentou que os bispos rezaram o terço juntos. “A gente vê muitos leigos rezando o terço”, disse. “Mas 400 bispos rezando o terço, puxando o terço, e convidando o povo de Deus a rezar o terço conosco, é uma coisa linda, e é uma marca característica desta assembleia”.
Fonte: ACI digital
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