O papa Francisco na missa pela Solenidade de São Pedro e São Paulo hoje (29) /
Daniel Ibañez (ACI Prensa)
Vaticano, 29 Jun. 23 / 04:34 pm (ACI).- O papa Francisco rezou a missa da Solenidade de São Pedro e São Paulo, padroeiros de Roma, hoje, 29 de junho, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
A cerimônia contou com a presença de membros da Delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla e foram abençoados os pálios que serão impostos aos arcebispos metropolitanos nomeados ao longo do ano.
A seguir, a homilia do papa Francisco:
Pedro e Paulo, dois Apóstolos enamorados do Senhor, duas colunas da fé da Igreja... E enquanto contemplamos a sua vida, o Evangelho de hoje coloca diante de nós a pergunta que Jesus dirige aos seus: «Vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mt 16, 15). Esta é a pergunta fundamental, a mais importante: Quem é Jesus para mim? Quem é Jesus na minha vida? Vejamos como os dois Apóstolos responderam a esta pergunta.
A resposta de Pedro poder-se-ia resumir numa palavra: seguimento. Pedro vive os seus dias no seguimento do Senhor. Naquele dia, quando Jesus interpelou os discípulos em Cesareia de Filipe, Pedro respondeu com uma estupenda profissão de fé: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo» (Mt 16, 16). Uma resposta impecável, precisa, pontual! Poderíamos falar duma resposta «de catecismo» perfeita. Mas tal resposta é fruto dum caminho: só depois de ter vivido a fascinante aventura de seguir o Senhor, só depois de ter caminhado com Ele, seguindo os seus passos durante muito tempo, é que Pedro chegou àquela maturidade espiritual que, por graça, por pura graça, o leva a tão clara profissão de fé.
De fato, como narra o mesmo evangelista Mateus, tudo tinha começado naquele dia em que Jesus, passando ao longo do mar da Galileia, o chamou, juntamente com seu irmão André: «eles deixaram as redes imediatamente e seguiram-No» (Mt 4, 20). Pedro largou tudo, para ir atrás do Senhor. E o Evangelho sublinha: «imediatamente». Pedro não disse a Jesus que iria pensar nisso, não fez cálculos para ver se lhe convinha, não apresentou desculpas para adiar a decisão, mas deixou as redes e seguiu-O, sem pedir antecipadamente qualquer segurança. Haveria de descobrir tudo dia após dia, no seguimento de Jesus, caminhando atrás d’Ele. Não é por acaso que as últimas palavras – segundo os Evangelhos – que Jesus lhe dirige são: «Tu, segue-Me» (Jo 21, 22), isto é, o seguimento.
Assim Pedro diz-nos que, à pergunta «quem é Jesus para mim», não basta responder com uma fórmula doutrinal impecável nem mesmo com uma ideia que formamos duma vez por todas. Não. Mas é perseverando todos os dias no seguimento do Senhor que aprendemos a conhecê-Lo; é fazendo-nos seus discípulos e acolhendo a sua Palavra que nos tornamos seus amigos e experimentamos o amor d’Ele que nos transforma. Aquela anotação «imediatamente» vale também para nós: se há tantas coisas na vida que podemos adiar, o seguimento de Jesus não pode ser uma delas; nisto não se pode hesitar, nem apresentar desculpas. E atenção! Pois algumas desculpas aparecem disfarçadas de espiritualidade, como quando se diz «não sou digno», «não sou capaz», «que posso fazer eu?». Trata-se de artimanhas do diabo, que nos rouba a confiança na graça de Deus, fazendo-nos crer que tudo depende das nossas capacidades.
Devemos desprender-nos das nossas seguranças – seguranças terrenas –, imediatamente, e seguir Jesus todos os dias: tal é a lição que Pedro nos dá hoje, convidando-nos a ser uma Igreja-em-seguimento. Igreja-em-seguimento. Igreja que deseja ser discípula do Senhor e humilde serva do Evangelho. Só assim será capaz de dialogar com todos e tornar-se lugar de acompanhamento, proximidade, esperança para as mulheres e os homens do nosso tempo. Só assim, quem está mais longe e muitas vezes nos olha com desconfiança ou indiferença, poderá finalmente reconhecer que «a Igreja – como dizia o Papa Bento – é o lugar de encontro com o Filho de Deus vivo e, deste modo, constitui o lugar de encontro entre nós» (Homilia do II Domingo do Advento, 10/XII/2006).
Consideremos agora o Apóstolo dos gentios. Se a resposta de Pedro consistia no seguimento, a de Paulo é o anúncio, o anúncio do Evangelho. Também para ele, tudo começou por graça, por iniciativa do Senhor. No caminho de Damasco, enquanto se empenhava com orgulho na perseguição dos cristãos, entrincheirado nas suas convicções religiosas, veio ao seu encontro Jesus ressuscitado e cegou-o com a sua luz, ou melhor, graças àquela luz, Saulo deu-se conta de quanto era cego. Fechado no orgulho da sua rígida observância, descobre em Jesus a realização do mistério da salvação. E desde então, comparando-as com a sublimidade do conhecimento de Cristo, considera todas as suas seguranças humanas e religiosas como «esterco» (Flp 3, 8). Assim Paulo consagra a sua vida a percorrer terra e mar, cidades e aldeias, não se importando de padecer carências e perseguições, contanto que possa anunciar Jesus Cristo. Por outro lado, quase parece que ele, quanto mais anuncia o Evangelho, tanto mais conhece Jesus. O anúncio da Palavra aos outros permite-lhe, a ele também, penetrar nas profundezas do mistério de Deus; a ele, Paulo, que escreveu «ai de mim se eu não evangelizar» (1 Cor 9, 16); a ele que confessa, «para mim, viver é Cristo» (Flp 1, 21).
Portanto Paulo diz-nos que, à pergunta «quem é Jesus para mim», não se responde com uma religiosidade intimista, que nos deixa tranquilos sem fomentar em nós a inquietação de levar o Evangelho aos outros. O Apóstolo ensina que tanto mais crescemos na fé e no conhecimento do mistério de Cristo, quanto mais formos seus arautos e testemunhas. E isto acontece sempre: quando evangelizamos, ficamos evangelizados. É experiência de todos os dias: quando evangelizamos, ficamos evangelizados. A Palavra, que levamos aos outros, regressa a nós numa medida maior do que a usada para a oferecer (cf. Lc 6, 38). E também hoje a Igreja tem necessidade disto: de colocar o anúncio no centro, de ser uma Igreja que não se cansa de repetir, «para mim, viver é Cristo» e «ai de mim se eu não evangelizar». Uma Igreja que precisa de anunciar, como necessita de oxigénio para respirar, que não pode viver sem transmitir o abraço do amor de Deus e a alegria do Evangelho.
Irmãos e irmãs, festejamos Pedro e Paulo. Eles responderam à pergunta fundamental da vida – quem é Jesus para mim? – vivendo o seguimento de Jesus e anunciando o Evangelho. É bom crescer como Igreja do seguimento, como Igreja humilde que nunca dá por terminada a busca do Senhor, tornando-se simultaneamente uma Igreja aberta, que encontra a sua alegria, não nas coisas do mundo, mas no anúncio do Evangelho ao mundo a fim de semear no coração das pessoas a inquietação de Deus. Com humildade e alegria, há de levar o Senhor Jesus a todo o lado: à nossa cidade de Roma, às nossas famílias, às relações e vizinhanças, à sociedade civil, à Igreja, à política, ao mundo inteiro, especialmente onde se verifica pobreza, degradação e marginalização.
E, hoje, enquanto alguns dos nossos irmãos Arcebispos recebem o Pálio, sinal de comunhão com a Igreja de Roma, quero dizer-lhes: Sede apóstolos como Pedro e Paulo. Sede discípulos no seguimento e apóstolos no anúncio; juntamente com todo o Povo de Deus, levai por toda a parte a beleza do Evangelho. Por fim, quero dirigir a minha afetuosa saudação à Delegação do Patriarcado Ecuménico, enviada aqui pelo caríssimo irmão Sua Santidade Bartolomeu. Obrigado pela vossa presença. Obrigado! Caminhemos juntos, caminhemos juntos no seguimento e no anúncio da Palavra, crescendo na fraternidade. Que Pedro e Paulo nos acompanhem e intercedam por todos nós.
Fonte: ACI digital
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