Jesuíta James Martin / Shawn (CC BY-NC 2.0)
Nicolás de Cárdenas
MADRI, 07 Jul. 23 / 04:07 pm (ACI).- "Há muita homofobia na Igreja", diz o padre jesuíta James Martin em entrevista à revista Catalunya Cristiana. Para ele, há um sentimento de "ódio" em relação às pessoas que se identificam com as siglas LGTBIQ+ ( lésbicas, gays, transgêneros, bissexuais, intersexuais, queer e mais).
Hoje (7), Martin apareceu na lista de participantes do sínodo da Sinodalidade convocado pelo papa Francisco. O jesuíta entrou como convidado pessoal do papa.
O Dicionário Caldas Aulete define a homofobia como a "aversão ao homossexual ou ao homossexualismo". Importantes líderes católicos como o prefeito emérito da Congregação (hoje Dicastério) para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Ludwig Müller, esse conceito na verdade "não existe", pois "é claramente uma invenção, um instrumento de dominação totalitária sobre o pensamento dos outros”.
Em entrevista publicada em 2019, Müller disse que "a homofobia é um engano que serve para ameaçar as pessoas".
A doutrina católica sobre homossexualidade está resumida nos seguintes três artigos do Catecismo da Igreja Católica:
2.357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.
2.358. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.
2.359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.
O padre Martin, autor de Construindo uma ponte: Como a Igreja Católica e a Comunidade LGBT podem entrar em uma relação de respeito, compaixão e sensibilidade, costuma se envolver em polêmicas sobre o tema. Muitos bispos e cardeais já reprovaram publicamente aspectos da ação pastoral do jesuíta.
Entre eles, o arcebispo de Durban, África do Sul, cardeal Wilfrid Fox Napier, rejeitou a inclusão do termo “Católicos LGBT” nos documentos da Igreja, conforme promovido pelo padre Martin.
Mais recentemente, o bispo de Tyler, EUA, dom Joseph Strickland, censurou o jesuíta por declarar compatível celebrar em junho o chamado Orgulho LGBTI e o mês do Sagrado Coração de Jesus. O bispo disse através do Twitter: “Esta blasfêmia deve parar, Deus ama todas as pessoas, mesmo as mais pecadoras, mas dizer que os atos pecaminosos são compatíveis com o Sagrado Coração de Jesus Cristo contradiz o chamado do Senhor para ir e não pecar mais”.
O papa Francisco, por sua vez, o recebeu em duas ocasiões: em 30 de setembro de 2019 e em 11 de novembro de 2022. Também lhe enviou pelo menos quatro cartas, em junho de 2021, em maio de 2022, em janeiro de 2023 e em maio 2023.
Nelas transmitiu palavras de gratidão: “Quero agradecer-lhe por seu zelo pastoral e sua capacidade de estar perto das pessoas, com a proximidade que Jesus tinha, e que reflete a proximidade de Deus”.
Para James Martin, trata-se de "ódio"
O padre Martin, que dirige o "recurso católico LGBTQ" chamado Outreach, disse na entrevista à Catalunya Cristiana que “uma parte significativa dos católicos” tem dificuldade em ver as pessoas incluídas na sigla LGTBIQ+ “como filhos amados de Deus”.
Para ele, isso ocorre “por causa da homofobia. Até esta palavra é insuficiente: significa medo das pessoas LGTBIQ+, quando na verdade é ódio”, disse.
O padre alega que isso ocorre porque "muitos católicos ainda não conhecem as pessoas LGTBIQ+, então as veem como estranhas".
Em segundo lugar, diz que “os psicólogos dizem que a raiva intensa dirigida às pessoas LGTBIQ + geralmente vem de pessoas que se sentem incômodas com sua própria sexualidade (ou seja, que lutam internamente com sentimentos homossexuais)”.
Ele considera que esta atitude tem as suas raízes no fato de “algumas pessoas pensarem que é pecado simplesmente ser gay, o que não é verdade”.
“Somado a tudo isso, vemos que há muita homofobia na Igreja”, resume o jesuíta.
O padre Martin diz: “O que mais me cansa é o nível de homofobia na Igreja”. Em sua opinião, "não há outro grupo que seja tão implacavelmente rotulado como pecador, quando todos nós, de alguma forma, vivemos vidas que não se conformam 100% com os Evangelhos".
Atitude do papa Francisco
Para o padre Martin, “talvez os líderes da Igreja devam pensar em se desculpar pelas declarações ofensivas que foram feitas”. Nesse sentido, diz que “qualquer coisa que faça uma pessoa sentir que de alguma forma é um erro não vem de Deus”.
O jesuíta diz que, "felizmente, o papa Francisco tentou se aproximar desse grupo de pessoas de forma pastoral e essa abordagem fez com que muitos se sentissem mais bem-vindos e amados".
"Reconhecer o amor" entre pessoas do mesmo sexo
Ao responder sobre se é possível redefinir o magistério da Igreja sobre o matrimônio como a união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher, o padre Martin respondeu: "Não colocarei em dúvida o ensinamento da Igreja, mas diria que devemos nos perguntar se a Igreja não pode reconhecer o amor muitas vezes abnegado e solidário de casais homossexuais".
Com relação ao acesso ao sacramento da Eucaristia, o padre americano entende que "o problema não é o fato de pedirmos às pessoas que sigam os ensinamentos da Igreja. O problema é que nos concentramos quase exclusivamente nas pessoas LGBTIQ+".
A revista Catalunya Cristiana, onde foram feitas essas declarações, foi fundada em 1979 e é propriedade da arquidiocese de Barcelona por meio da Fundação Mensagem Humana e Cristã.
Fonte: ACI digital
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