Papa Francisco acena a peregrinos na praça de São Pedro, no Vaticano, na quarta (1°).| Vatican Media
Por Jonathan Liedl
3 de nov de 2023 às 13:50
O papa Francisco quer uma “mudança de paradigma” na teologia católica que tome como ponto de partida o envolvimento com a ciência, a cultura e a experiência vivida das pessoas no mundo contemporâneo.
Citando a necessidade de lidar com “profundas transformações culturais”, o papa apresentou sua visão para o futuro da teologia católica num motu proprio publicado na quarta-feira (1º).
Intitulado Ad theologiam promovendam , ou “para promover a teologia”, o documento revisa os estatutos da Pontifícia Academia de Teologia “para torná-los mais adequados à missão que o nosso tempo impõe à teologia”.
Criada em 1718 pelo papa Clemente XI, a academia vinha funcionando até agora segundo os estatutos estabelecidos pelo papa são João Paulo II na carta apostólica Inter munera academiarum.
A carta do papa Francisco o foco de “promover o diálogo entre razão e fé”, estabelecido há mais de 200 anos, para promover “diálogo transdisciplinar com filosofias, ciências, artes e todos os outros conhecimentos”.
Razão e fé, Fides et ratio em latim, é exatamente o nome da encíclica de são João Paulo II que serviu de base para as diretrizes estabelecidas por ele para a academia que vigoravam até agora.
Para Francisco, “a teologia só pode desenvolver-se numa cultura de diálogo e encontro entre diferentes tradições e diferentes conhecimentos, entre diferentes confissões cristãs e diferentes religiões, envolvendo-se abertamente com todos, crentes e não crentes”.
'Fundamentalmente contextual'
O papa Francisco escreveu que a teologia católica deve experimentar uma “revolução cultural corajosa” para se tornar uma “teologia fundamentalmente contextual”. Guiada pela encarnação de Cristo no tempo e no espaço, esta abordagem da teologia deve ser capaz de ler e interpretar “o Evangelho nas condições em que homens e mulheres vivem diariamente, em diferentes ambientes geográficos, sociais e culturais”, escreveu o papa.
O papa comparou esta abordagem com uma teologia que se limita a “repropor abstratamente fórmulas e esquemas do passado” e repetiu a sua crítica de longa data à “teologia administrativa”. Em vez disso, enfatizou que os estudos teológicos devem estar abertos ao mundo, não como uma “atitude 'tática' ”, mas como um profundo “ponto de inflexão” no seu método, que ele disse deve ser “indutivo”.
O papa Francisco enfatizou que esta revisão da teologia de baixo para cima é necessária para melhor ajudar a missão evangelizadora da Igreja.
“Uma Igreja sinodal, missionária e ‘em saída’ só pode corresponder a uma teologia ‘em saída’ ”, escreveu o papa.
Da mesma forma, disse o papa, esta abordagem dialógica pode permitir que a teologia “amplie as fronteiras” do raciocínio científico, permitindo-lhe superar tendências desumanizantes.
'Transdisciplinar' e pastoral
Para alcançar esta “teologia ‘extrovertida’ ”, o papa Francisco escreveu que a teologia deve tornar-se “transdisciplinar”, parte de uma “teia de relações, antes de tudo com outras disciplinas e outros conhecimentos”. Este compromisso, escreveu ele, leva à “árdua tarefa” dos teólogos fazerem uso de “novas categorias desenvolvidas por outros conhecimentos” para “penetrar e comunicar as verdades da fé e transmitir o ensinamento de Jesus nas línguas de hoje, com originalidade e consciência crítica.”
O papa Francisco também escreveu que deve ser dada prioridade ao “conhecimento do 'senso comum' das pessoas”, que descreveu como uma “fonte teológica na qual vivem muitas imagens de Deus, muitas vezes não correspondendo ao rosto cristão de Deus, única e sempre amor."
O papa disse que este “selo pastoral” deve ser colocado em toda a teologia católica. Descrita como “teologia popular”, a partir “dos diferentes contextos e situações concretas em que as pessoas estão inseridas” e deixar-se “ser seriamente desafiada pela realidade”, a reflexão teológica pode auxiliar no discernimento dos “sinais dos tempos”, escreveu o papa.
“A teologia coloca-se ao serviço da evangelização da Igreja e da transmissão da fé, para que a fé se torne cultura; isto é, o ethos sábio do povo de Deus, uma proposta de beleza humana e humanizadora para todos”, escreveu o papa.
Novos estatutos
Os novos estatutos colocam a academia “ao serviço das instituições acadêmicas dedicadas à teologia e de outros centros de desenvolvimento cultural e de conhecimento interessados em chegar à pessoa humana no seu contexto de vida e de pensamento”.
“O Papa Francisco confia à nossa Pontifícia Academia uma nova missão: a de promover, em todas as áreas do conhecimento, a discussão e o diálogo, a fim de alcançar e envolver todo o povo de Deus na investigação teológica, para que a vida do povo se torne vida teológica”, disse em comunicado à imprensa o bispo italiano Antonio Stagliano, presidente da academia nomeado pelo papa em agosto do ano passado.
Os novos estatutos exigem que a academia facilite a colaboração entre teólogos católicos e “aqueles de outras confissões ou religiões cristãs”. A academia também irá se “ 'ligar em rede' com universidades e centros de produção de cultura e pensamento” e explorar formas “culturalmente qualificadas” de propor o Evangelho como um guia de vida até mesmo para ateus, um processo descrito no comunicado de imprensa da academia como “disseminação de sabedoria”.
Em harmonia com “o magistério do papa Francisco”, sob os novos estatutos, a academia também vai exercer um compromisso com a “caridade intelectual”, concentrando-se nas questões e necessidades daqueles “nas periferias existenciais”.
Fonte: ACI digital
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