Cavaleiros de Colombo nos EUA vão cobrir obras de arte de Rupnik em santuários

Patrick Kelly, cavaleiro Supremo dos Cavaleiros de Colombo, em entrevista com Montse Alvarado, presidente e executiva-chefe da EWTN News. | EWTN News

Por Hannah Brockhaus

12 de jul de 2024 às 10:11

Os cavaleiros de Colombo anunciaram ontem (11) que vão cobrir mosaicos do padre e ex-jesuíta acusado de abuso Marko Rupnik em Washington, D.C. e no estado de Connecticut, nos EUA.

A organização católica leiga, que tem 2,1 milhões de membros, disse ontem (11) que vai cobrir os mosaicos do chão ao teto nas duas capelas do Santuário Nacional de São João Paulo II em Washington, D.C., e na capela da sede dos cavaleiros em New Haven, Connecticut, até que a investigação formal da Santa Sé sobre os supostos abusos do padre esloveno seja concluída.

Patrick Kelly, Cavaleiro Supremo dos Cavaleiros de Colombo, disse hoje (10) à EWTN News que um tecido preto será instalado “muito em breve”, embora não tenha dito quando. Os cavaleiros disseram ontem (11) em comunicado que a obra de arte poderia ser permanentemente coberta com gesso quando o dicastério para a Doutrina da Fé emitir sua decisão sobre Rupnik.

Os cavaleiros de Colombo foram fundados em New Haven, Connecticut, em 1882 pelo beato padre Michael McGivney. O membros da ordem, dedicados a promover os princípios fundamentais do grupo – caridade, unidade, fraternidade e patriotismo – contribuíram com 50 milhões de horas de serviço e quase US$ 185 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) para causas de caridade em suas comunidades em 2022.

A decisão dos cavaleiros de cobrir essas obras de arte, que abrangem ambos os espaços, foi tomada depois de um processo de revisão exaustivo e confidencial que incluiu consultas com vítimas de abuso sexual e seus cuidadores, historiadores de arte, peregrinos ao santuário, bispos e teólogos especializados em moral.

“Os cavaleiros de Colombo decidiram cobrir esses mosaicos porque a nossa primeira preocupação deve ser com as vítimas de abuso sexual, que já sofreram imensamente na Igreja, e que podem ficar ainda mais magoadas com a exposição contínua dos mosaicos no santuário”, disse Kelly no comunicado.

“Embora as opiniões variem entre aqueles que foram consultados, houve um forte consenso para priorizar as necessidades das vítimas, especialmente porque as alegações são atuais, não resolvidas e horrendas”, disse Kelly.

Kelly reforçou esse ponto em entrevista à EWTN News.

“Nosso processo de decisão foi feito com base em múltiplos fatores, mas o número um foi a compaixão pelas vítimas”, disse Kelly. “Precisamos priorizar as vítimas sobre qualquer aspecto material. Essa foi a nossa primeira consideração.”

Patrick Kelly em entrevista ontem (11) com Montse Alvarado, presidente e executiva geral da EWTN News. EWTN News

Rupnik já foi um artista renomado e seus mosaicos estão em centenas de santuários, igrejas e capelas ao redor do mundo. Dois dos mosaicos nas fachadas da basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP) já fotam inauguradas. O padre foi expulso dos jesuítas em junho do ano passado por não obedecer ordens de seu superior de não falar em público.

A expulsão de Rupnik seguiu-se a uma longa revisão do que a companhia de Jesus considerou como acusações “credíveis” de abuso espiritual, psicológico e sexual de pelo menos 30 freiras ao longo de décadas. Algumas mulheres afirmam que os abusos de Rupnik ocorreram como parte do processo de criação da sua arte no Centro Aletti, uma escola de arte que ela fundou em Roma.

A Santa Sé anunciou em outubro do ano passado que o papa Francisco decidiu suspender a prescrição do caso Rupnik , permitindo que o dicastério para a Doutrina da Fé conduza uma investigação canônica sobre as alegações de abuso.

Não houve mais anúncios da Santa Sé sobre a investigação e não está claro se Rupnik continua a viver em Roma, embora tenha sido aceito para o ministério sacerdotal em diocese em seu país natal, a Eslovênia, no ano passado.

Rupnik é autor de Secondo lo Spirito: La Teologia Spirituale in Cammino con la Chiesa di Papa Francesco, um dos 11 volumes da coleção Teologia do Papa Francisco, publicada pela Libreria Editrice Vaticana, editora da Santa Sé.

Crescente protesto público

O que fazer com as obras de arte de Rupnik , mosaicos coloridos caracterizados por figuras grandes e fluidas de olhos grandes, é uma questão polêmica em meio às inúmeras acusações contra ele, que vieram à tona em dezembro de 2022.

Os Cavaleiros também anunciaram várias mudanças imediatas que seriam implementadas no santuário, em solidariedade às vítimas de abusos, incluindo o fornecimento de material educativo sobre os mosaicos, deixando claro que a sua exposição durante o processo de consulta "não teve a intenção de ignorar, negar ou diminuir acusações de abuso."

Cada missa no Santuário Nacional de São João Paulo II vai incluir agora uma oração dos fiéis pelas vítimas de abuso sexual, e serão especialmente invocados santos relacionados a vítimas de abuso, como santa Josefina Bakhita.

O grupo disse ter tomado conhecimento das acusações contra Rupnik em dezembro de 2022 e disse que o artista, embora sob investigação, continua a ser um padre em situação regular na diocese de Koper, na Eslovênia.

“Essa decisão baseia-se num propósito fundador dos Cavaleiros de Colombo, que é proteger as famílias, especialmente mulheres e crianças, e os que são vulneráveis ​​e sem voz”, disse Kelly na declaração de ontem (11).

A capela "Redemptor Hominis" do Santuário Nacional de São João Paulo II em Washington, DC, é decorada com mosaicos do Padre Marko Rupnik. Lawrence OP|Flickr|CC BY-NC-ND 2.0

O Santuário Nacional de São João Paulo II é uma iniciativa pastoral dos Cavaleiros de Colombo, criado em 2011 e reconhecido em 2014 como santuário nacional pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA.

Os mosaicos de Rupnik foram instalados no santuário em 2015, e a Capela da Sagrada Família, na sede dos Cavaleiros, exibe a arte de Rupnik desde 2005.

“A arte que patrocinamos deve servir, portanto, como um trampolim – e não um obstáculo – para a fé em Jesus Cristo e na sua Igreja”, disse o cavaleiro supremo da ordem ao destacar a missão evangelizadora do santuário.

Rupnik não fez nenhuma declaração desde que as acusações vieram à tona.

De olho em Lourdes

A decisão dos Cavaleiros ocorre uma semana depois do bispo de Tarbes e Lourdes, França, dom Jean-Marc Micas, ter declarado que, apesar da sua opinião pessoal de que a obra de arte de Rupnik no famoso santuário mariano deveria ser removida, decidiu esperar para tomar uma decisão final devido à "forte oposição de alguns."

Depois de formar uma comissão especial em maio de 2023, dom Jean-Marc Micas, anunciou em 2 de julho que era necessário mais tempo “para discernir o que deveria ser feito” com os mosaicos de Rupnik no local das aparições marianas, porque a sua convicção de que deveriam ser removidas “não seria suficientemente compreendida” e “acrescentaria ainda mais divisão e violência”.

O bispo francês disse ter decidido como “primeiro passo” que os mosaicos não seriam mais iluminados à noite durante as procissões noturnas do rosário à luz de velas realizadas no santuário.

Kelly disse em entrevista à EWTN News que a intenção do bispo de Lourdes de tomar uma decisão nesta primavera encorajou os Cavaleiros a agirem agora.

Kelly agradeceu ao bispo de Lourdes em sua declaração ontem (11) por sua “decisão ponderada” e disse que o bispo “nos informou e confirmou nossa própria tomada de decisão”, ao acrescentar que “os santuários são lugares de cura, oração e reconciliação” e “não devem causar mais sofrimento às vítimas”.

“Cada situação é diferente. Nos EUA, os católicos continuam a sofrer de maneiras únicas com revelações de abusos sexual e, às vezes, com a resposta da Igreja. Somos claros que, como santuário nacional, nossa decisão deve respeitar a necessidade especial de cura neste país", disse Kelly ao destacar a importância do discernimento baseado na missão e no contexto.

14 de mai de 2024

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