Padre José Luis de Menezes na Fazenda da Esperança
Divulgação ACN
Por Marcio Martins
Data: 10/10/2024
Padre José Luis de Menezes fala à ACN - Ajuda à Igreja que Sofre sobre as origens das Fazendas da Esperança, uma rede de centros de reabilitação, e sua conexão, até hoje, com a fundação pontifícia
A Fazenda da Esperança, uma rede de centros de reabilitação que começou no Brasil, mas administra 170 comunidades em 27 países, que atualmente atende cerca de 4.500 homens e mulheres que buscam escapar da escravidão do vício. De acordo com o padre José Luís, no entanto, cerca de 100.000 pessoas já se beneficiaram do programa ao longo das quatro décadas desde que a primeira comunidade foi fundada pelo Frei Hans Stapel.
Em conversa com a ACN – Ajuda à Igreja que Sofre, o padre José Luis de Menezes repete constantemente a palavra "dignidade", um conceito que, neste contexto, ele admite, é exclusivamente cristão. "Vemos todos como filhos de Deus. Nós os acolhemos e cuidamos deles, e uma das coisas que fazemos é tentar reconstruir uma conexão com seus entes queridos. Em muitos casos, conseguimos curar esse relacionamento também."
"Nossas comunidades se dedicam a resgatar a dignidade das pessoas que se perderam para o vício", diz o padre José Luís de Menezes durante sua visita à sede internacional da ACN.
Um pouco de história
Frei Hans Stapel, fundador da Fazenda da Esperança
Divulgação ACN
Hans Stapel nasceu na Alemanha, em 1945. Um dia, sua família soube do trabalho do que mais tarde seria chamado de Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) e suas missões para fornecer apoio aos católicos alemães e do Leste Europeu que haviam perdido tudo por causa da guerra. Esse encontro teve um efeito de mudança de vida em Stapel, que se tornou religioso e missionário.
Em 1983, fundou a primeira Fazenda da Esperança no Brasil. Desde o início, o trabalho com os dependentes químicos incluiu uma dimensão espiritual. "Todas as pessoas com quem trabalhamos nos dizem a mesma coisa. Eles dizem que, por causa de seu vício, perderam seu propósito na vida, se distanciaram de Deus. Através da oração e do Evangelho, eles recuperam essa relação com Deus, encontram fé e sentido, e isso lhes dá força para reconstruir suas vidas. Esse despertar espiritual os ajuda a recomeçar", diz o padre José Luis.
Momentos de Oração na Fazenda da Esperança
Divulgação ACN
Fazendas pesadas de frutas
O padre José Luís é atualmente presidente da Família da Esperança, uma organização que dirige as Fazendas, mas também centenas de grupos de apoio à família, e inclui muitos voluntários leigos, sacerdotes, religiosos e até alguns bispos que, após se tornarem eméritos, se dedicam integralmente a esta missão de ajudar os toxicodependentes.
"A Família da Esperança é a alma da Fazenda", explica. Existe até um mosteiro de freiras Clarissas que está ligado ao movimento e dedicado exclusivamente a rezar pela missão. "Esta é uma graça especial, e acho que esta oração é o motivo pelo qual a comunidade continua a crescer e a dar tantos frutos".
Entre esses frutos está um grupo de seminaristas que estão sendo preparados para servir o projeto por meio do sacerdócio. Um desses seminaristas é Dimitri, cujo caminho para a Igreja era sinuoso, para dizer o mínimo. "Dimitri está atualmente estudando filosofia. Ele é de São Paulo, é tatuado e costumava ser punk. Ele usava drogas e todo o resto, mas o vício o levou ao fundo do poço. Quando seus pais tentaram entrar em contato com ele novamente, ele pediu ajuda. Ele fez sua recuperação conosco e, quando voltou a ficar bem, trabalhou como voluntário em uma fazenda na Guatemala por três anos. Durante essa experiência, ele percebeu que faltavam padres e perguntou por que ele não deveria se tornar um. Essa foi uma das três vocações atuais que nasceram do nosso movimento", explica o sacerdote brasileiro.
Como Dimitri, todas as pessoas que vão às Fazendas têm que pedir ajuda livremente. "Oferecemos um tratamento voluntário. Existem organizações que fazem tratamento compulsório, mas nós não. Então, a primeira coisa que fazemos é uma entrevista e pedimos à pessoa que escreva uma carta, comprometendo-se com o programa, e isso torna muito mais fácil e muito mais bem-sucedido."
"Procure ajuda!"
O conselho do padre José Luís aos familiares de pessoas que sofrem de dependência é procurar ajuda externa. "Eles podem procurar na internet, ou através da Igreja, através da paróquia. Existem muitas organizações além da nossa. Eles encontrarão muita solidariedade, porque essa é uma marca daqueles que passaram por isso. Além disso, eles precisarão desse apoio até que seu ente querido finalmente peça ajuda. É sempre mais fácil passar por isso com pessoas que já tiveram a experiência, pois existe um sério risco de codependência, onde o viciado arrasta sua família com ele. Você precisa de ajuda e apoio para evitar essa armadilha e, finalmente, resgatar seu ente querido."
No caso das Fazendas da Esperança, grande parte desse apoio vem de leigos, e às vezes de famílias inteiras, que deixaram tudo para se dedicar a ajudar quem sofre de dependência. Mas para que essa dedicação seja completa, o movimento tem que prover seu sustento. "É por isso que viemos para a ACN. A nossa relação remonta aos nossos respectivos fundadores, e a ACN ajudou-nos várias vezes com projetos de construção, reforma e assim por diante, mas neste momento a nossa principal preocupação é prover àqueles que se dedicam totalmente a esta missão, a este serviço, e estamos falando sobre como podemos garantir o seu sustento para que se sintam seguros no dom de si mesmos para salvar a dignidade de tantos dos nossos irmãos e irmãs".
Sobre a ACN - Ajuda à Igreja que Sofre
A ACN (Ajuda à Igreja que Sofre) é uma Fundação Pontifícia que apoia, por meio de informação, oração e ação, os fiéis onde quer que sejam perseguidos, oprimidos ou enfrentem necessidade. Fundada no Natal de 1947, a ACN foi elevada à condição de Fundação Pontifícia da Igreja em 2011. Todos os anos, a instituição atende cerca de 5.000 pedidos de ajuda pastoral da Igreja em mais de 130 países. Os projetos apoiados incluem: formação de seminaristas, impressão de Bíblias e literatura religiosa - incluindo a Bíblia da Criança da ACN com mais de 51 milhões de exemplares impressos em mais de 190 línguas -, apoio a padres e religiosos em missões e situações críticas; construção e reconstrução de igrejas e demais instalações eclesiais; meios de transporte para evangelização; programas religiosos de comunicação; ajuda a refugiados e vítimas de conflitos.
Por Marcio Martins coworkcom.com.br
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